Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Homilia no V Domingo da Páscoa,

Dia da Mãe

 

Permanecer em Cristo é estar unido a Ele, é estar conectado com Cristo a verdadeira Vide, que que nos oferece em cada dia a seiva da graça, para nos ajuda a viver e a testemunhar a vida em abundância.

O ensinamento de Jesus neste Domingo, em que celebramos em Portugal o Dia da Mãe, convida-nos a partir do Evangelho de São João a refletir sobre a “alegoria da videira”. Disse Jesus: “Eu Sou a verdadeira Vide, vós sois os ramos. Sem mim nada podeis fazer”.

O desafio a permanecer em Cristo, a estar unido e conectado com Ele, a realizar com alegria e esperança a missão que a Igreja nos confiou, é sempre um dom e um desafio. A Igreja é muitas vezes comparada a um campo. A Sagrada Escritura lembra-nos que a “Vinha do Senhor é a Casa de Israel”. O Pai é o Agricultor, Jesus é a videira, a Vide, a cepa verdadeira, o bom Pastor, a “pedra angular”, o Caminho, a Verdade e a Vida”, a luz que ilumina a vida dos batizados para sermos os seus ramos com vida. A primeira ideia que nos sobressai deste ensinamento de Jesus é a palavra “permanecer”, que aparece oito vezes neste texto do Evangelho.

Permanecer em Cristo crucificado, ressuscitado é um dom oferecido para cada um viver e apreender o que significa viver unido a Cristo, o Ressuscitado. Nós permanecemos em Cristo pelo dom da fé, pelo sacramento do batismo, fomos enxertados n`Ele, recebemos a vida trinitária de Deus, o amor criador do Pai, a graça santificadora do Espírito Santo e a pessoa de Jesus se revelou como a videira verdadeira, convidando-nos a permanecer com Ele, a identificarmo-nos com Ele e a sentirmos a alegria de ser filhos do mesmo Pai.

A Vinha do Senhor, a Igreja é a plantação de cepas novas e escolhidas de vidas humanas e cristãs unidas a Cristo, a verdadeira Vide a quem devemos permanecemos unidos.  Ele chama-nos no amor para sermos ramos novos, com vida espiritual autêntica, para produzirmos frutos de caridade, de justiça e de santidade em abundância na nossa vida.

Permanecer em Cristo, estar unido a Ele é estar unido à fonte da vida, da paz, do amor verdadeiro é estar em comunhão com Deus e no amor com os irmãos. Alimentados com a graça santificante do verdadeiro Pão vivo, que desceu do Céu, o próprio Filho de Deus, que na Eucaristia se oferece ao Pai no Sacramento do amor e da comunhão, oferece-nos também a possibilidade de estarmos conectados a Ele.

Unidos em Igreja a Jesus Cristo, a verdadeira Vide, aprendemos a descobrir a fonte manancial da graça de toda a vida cristã e o caminho de santidade que nos leva à comunhão com Deus e ao serviço com os irmãos. Unidos a Cristo para sermos a videira a produzir uvas boas e saborosas, cheias de pujança espiritual, sinal de grande fecundidade interior, que nos ensina o caminho para chegar à intimidade da vida nova com o Pai. A imagem da videira ilumina a nossa vida e a nossa fé e dá sentido ao nosso apostolado.

São João recorda-nos as palavras de Jesus: “Ninguém vai ao Pai senão por mim. Sem Mim nada podeis fazer”. É este ir e vir, este voltar a caminhar para Cristo e com Cristo, que nos leva aos lugares onde Ele está, onde todos os cristãos devemos ir, “às periferias” existenciais do mundo e aí conectar a nossa vida com as pessoas e com Ele, fazer acontecer a evangelização e a missão, como nos pede o Papa Francisco.

Com Ele procuramos as raízes da fé na meditação da Palavra, na filiação divina, na comunhão da vida nova em Cristo, na necessidade de união ao tronco que é Cristo vivo com liberdade e responsabilidade inovadora e criativa. Estarmos unidos à verdadeira Vide, que é Cristo e como ramos novos alimentarmo-nos da Eucaristia, dos sacramentos, da oração para produzir frutos novos de caridade para a vida do mundo.

Permanecer em Cristo é o grande convite e desafio da vida cristã, que significa também promover no tempo a duração da vida, da estabilidade, da comunhão, da fidelidade, da perseverança numa luta constante para fugir das adversidades e ocasiões de pecado e vencer os obstáculos para estar unido a Cristo. Neste tempo de pandemia somos chamados a fazer um exercício constante de escuta, de discernimento, de compromisso, de fuga do mundanismo, da superficialidade da vida, do relativismo pastoral e moral, do que é fugaz e passageiro neste mundo, onde Jesus nos disse: “Tende coragem, eu venci o mundo”.

É preciso ter a coragem de fazer acontecer a vontade de Deus, a mudança de uma “sociedade líquida”, para uma sociedade sólida, estruturada e alicerçada, enriquecida por um coração que vive, que ama e reza com alegria em resposta ao apelo de Jesus: “Permanecei em mim e Eu permanecerei em vós”. Esta forma de estar, de ser presença torna-se o “fio condutor”, o “leitmotiv”, a verdadeira decisão básica e “opção fundamental” da nossa vida e vocação cristã.

Jesus diz aos discípulos, que devem ser fiéis ao projeto que abraçaram e não devem ter medo de seguir o Mestre na radicalidade e na imitação do caminho da Cruz para estarem unidos a Ele.

Se assim não acontecer na vida dos discípulos, não poderá produzir frutos. Quem permanece unido a Cristo, à videira, esse dará muitos frutos. Paulo na sua conversão procurou unir-se a Cristo e depois tornou-se um anunciador extraordinário e incansável do Evangelho, assumindo a consciência daquilo que tinha sido um perseguidor dos cristãos.

Esta ousadia trouxe-lhe dificuldades para ser reconhecido pelos cristãos. Foi importante a ajuda e o testemunho de Barnabé da comunidade. Contou como Jesus lhe apareceu na estrada de Damasco, falou da sua conversão, da sua cegueira, do batismo que recebeu e dos primeiros passos dados na Igreja primitiva, no caminho a que o Senhor o chama a realizar a missão que lhe confiou de anunciar o Evangelho aos gentios.

A segunda leitura convida-nos a viver a regra do amor, na serenidade do coração, com os gestos, com palavras e com a vida. É este o meu mandamento: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Permanecer em Deus pela graça do Espírito Santo é acreditar e permanecer sempre no amor. Só a novidade do amor salvífico de Deus é capaz de curar, libertar e salvar.

Unidos a Cristo e uns aos outros, como a videira aos ramos, entenderemos o alcance das palavras de Jesus. Eu Sou a verdadeira Vide, o Pai corta as varas secas e queimas. Vós já estais limpos, isto é, sem pecado, por isso permanecei em mim, no meu amor e Eu permanecerei em vós.

A igreja nasce da graça do Espírito Santo, da garra dos apóstolos, com a força operativa de Deus, sacramento da salvação, assente em dois grandes pilares o testemunho de Pedro e de Paulo e de todos os apóstolos.  Barnabé também foi tocado por este caminho catecumenal, por isso ajudou Paulo a entrar na comunidade da Igreja e a ser sinal de comunhão e de unidade. As palavras de Jesus são estimuladoras e desafiantes: “A glória de meu Pai é que deis muito fruto”. As palavras de Jesus são muito belas. Ser batizado é estar unido e agarrado a esta videira que é Cristo, é sermos estes ramos novos que devem dar muito fruto. Estar unido a Cristo, como a videira está unida aos ramos é ter vida nova em Cristo e abrir o coração à vontade de Deus. A videira é Cristo, o Pai é o agricultor e os discípulos somos os ramos chamados a termos uma vida nova em abundância. Paulo falava da união a Cristo: “Para mim viver é Cristo e morrer é lucro. Já não Sou Eu que vivo é Cristo que vive em mim”. Dar fruto em Cristo é ter seiva espiritual.  Nenhum ramo pode dar fruto se não estiver unido a Cristo, se não “permanecer n`Ele” se não guardar as suas palavras. A condição essencial e fundamental da vida cristã é estar unido a Cristo e dar muito fruto. Jesus também sabe que há muitas varas que não produzem fruto, muitos cristãos que não vivem a obra de Deus. Mais fruto significa então mais vida em Cristo, mais verdade, mais homem novo, mais amor, mais união a Cristo, mais testemunho de vida e de santidade. Permanecer unido a Cristo, significa para os cristãos construir a comunidade dos discípulos missionários de Jesus.

Estamos a celebrar o mês de maio dedicado a Nossa Senhora, Mãe de Jesus e nossa Mãe e a viver o dia da mãe. Fazemos memória da vida das nossas mães, quer ainda vivam, quer já estejam junto de Deus a receberem a recompensa dos seus trabalhos, do seu amor e canseiras.

O dom de ser mãe na alegria, no serviço, na transmissão da vida humana, na gestação, no nascimento e no crescimento integral da pessoa humana, na família e no cuidado ao longo da própria existência é uma vocação. Tantas mães adolescentes, tantas mães solteiras, tantas mães na solidão, tantas mães infelizes no matrimónio e sofridas com o exemplo dos seus filhos, mas tantas mães felizes na família, mães viúvas e solteiras que continuam a cuidar dos seus filhos com amor e carinho. Uma mãe experimenta sempre as duas faces da moeda, a alegria, a entrega e a felicidade, mas também o sofrimento, a solidão, o abandono e a dor.

A arte de ser mãe é a maior grandeza de ser mulher no feminino. A maternidade pode ser biológica, adotiva e espiritual, mas o importante é que ela seja exercida com valor e qualidade de vida, de modo a humanizar as relações da experiência da maternidade.

“As mães sabem que não basta dar filhos ao mundo, mas é preciso também dar um mundo aos filhos. Um mundo cheio de valores, de esperança e sonhos” (Comissão Episcopal, Laicado, Família). Desde sempre ao longo da história a mulher chamada ao dom da maternidade responsável torna-se uma cooperadora no projeto criador de Deus e nos desafios da maternidade e da filiação. “As mães sabem que ser mãe não é ter é ser. Ser-se quem se é nos filhos e pelos filhos. As mães são aquelas que amam antes de ser amadas. São aquelas que respondem antes de ser chamadas.

São aquelas que beijam antes de serem beijadas. São aquelas que correm para o abraço esquecendo o cansaço. Como ninguém as mães são capazes de doar, de perdoar, de compreender, de aceitar e não julgar” (CELF).

Os desafios de uma maternidade consciente e responsável na sociedade atual ajuda a mãe na realização do seu projeto, enquanto família amada e querida por Deus. “Ser mãe é ser feliz somente por ser mãe. Ser mãe é ser amor e amor que ninguém esquece, mas que sempre se agradece” (CELF).

Maria de Nazaré, Mãe de Jesus, modelo de todas as mães, mãe solícita e carinhosa em Belém, em Nazaré, na vida pública, no Calvário, no Cenáculo e na igreja nascente onde cuidou de Jesus, cuide de todas as mães, abençoe as nossas mães, peça por elas, proteja os seus filhos e dê a todos a alegria de um coração em oração, em ação de graças, em petição e gratidão ao celebrar o Dia da Mãe, nesta Igreja dedicada a Nossa Senhora do Carmo. Confiamo-nos à sua proteção e cuidado materno e neste dia agradecemos por intercessão de São José, o dom da vida daquela que um dia nos trouxe no seu ventre, sentiu a alegria de nos ver nascer e nos ajudou a crescer na vida humana e espiritual.

À vossa proteção nos acolhemos Santa Mãe de Deus. Entregamos-Te as nossas mães, as que vivem e já partiram, a alegria e o dom da maternidade da Igreja, expressa também no testemunho da missão e no ministério sacerdotal e pastoral destes dois sacerdotes, o padre João Zuzarte e o padre José da Mota, na sua passagem de testemunho de pastores para tornarem mais fecunda e fiel a maternidade e a missão da Igreja. Ámen!

 

† António Luciano,
Bispo de Viseu
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