Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O Diácono ministro do serviço e da caridade

 

Irmãos Caríssimos.

Neste momento foram apresentados estes nossos irmãos, que vivendo a vocação matrimonial foram chamados por Deus e escolhidos para receber a Ordenação de Diácono. Damos graças a Deus por eles e pela sua família. A viverem a vida cristã no serviço pastoral nas paróquias de Rio de Loba, o Fernando Almeida, na de Dardavaz o Joaquim Coimbra e na do Viso, o Sérgio Amorim. A vocação vivida no sacramento do matrimónio em fidelidade, em unidade, em indissolubilidade, em comunhão com as suas esposas e filhos, sentiram o chamamento de Deus ao Diaconado Permanente, enquanto membros de uma comunidade, no seio da sua família, uma pequena “Igreja Doméstica”. Depois da preparação doutrinal, espiritual e teológica, com o testemunho dos formadores que os acompanharam são hoje chamados a aproximar-se junto do altar, diante do povo de Deus que os apresenta, porque os achou dignos e por isso pede, à Mãe Igreja, que lhes administre o primeiro grau do Sacramento da Ordem. Depois de atestada a sua dignidade e idoneidade, o Bispo acolhe os que vão receber o dom da ordenação de Diácono.

Agradeço às suas esposas, filhos e à sua família, o apoio incondicional, o consentimento e generosidade familiar, para que estes nossos irmãos possam em liberdade interior e responsabilidade, acolher o ministério que a Igreja hoje lhes confere. Abri o vosso coração ao Espírito Santo para que vos consagre no santo ministério, desça sobre vós e vos envie a anunciar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos cativos e a cuidar dos corações atribulados.

À semelhança daqueles que, outrora foram escolhidos pelos Apóstolos para o ministério do serviço da caridade, deveis ser homens de bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Enraizados e firmes na fé, apresentai-vos irrepreensíveis e puros diante de Deus e dos homens, como convém aos ministros de Cristo, dispensadores dos mistérios da graça de Deus. Não vos aparteis da esperança do Evangelho, do qual deveis ser ministros e não apenas ouvintes. Guardai o mistério da fé numa consciência pura, mostrai em vossas obras a palavra que pregais com os lábios, para que o povo cristão, vivificado pelo Espírito Santo, se torne oblação pura, agradável a Deus, e vós quando fordes ao encontro do Senhor no último dia, possais ouvir da sua boca: “Muito bem, servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor” (cf. Ritual da Ordenação). É esta a alegria do Senhor, que nesse dia será em cada um de nós a alegria completa.

Os Diáconos, fortalecidos com os dons do Espírito Santo, têm por missão ajudar o Bispo e o seu presbitério no serviço da Palavra, do altar e da caridade, mostrando-se como servos humildes de todos. Ministros do altar proclamam o Evangelho, preparam a mesa do sacrifício eucarístico e distribuem aos fiéis o Corpo e o Sangue de Cristo.

Por mandato do Bispo, pertence aos Diáconos exortar e formar na doutrina Sagrada os não crentes e os crentes, presidir às orações, celebrar o batismo, assistir o matrimónio e abençoa-lo, levar o viático aos moribundos e presidir ao rito das exéquias.

A consagração dos Diáconos depois da oração das ladainhas, da imposição das mãos do Bispo sobre cada um dos eleitos, gesto que vem desde o tempo dos apóstolos é feita a oração de ordenação e termina com a entrega dos Evangelhos. Os Diáconos exercerão o ministério da caridade em nome do Bispo e do pároco.

O Concílio Vaticano II restaurou na Igreja o ministério do Diaconado Permanente, recuperando uma longa tradição, que vem desde a Igreja apostólica até aos nossos dias. Por isso a administração do primeiro grau do Sacramento da Ordem é conferida a homens – jovens a caminho do sacerdócio e adultos – ou a homens casados que ao receberem o dom da consagração no Diaconado Permanente participam do múnus de Cristo, sacerdote e rei. No momento solene da entrega do livro dos Evangelhos, o Bispo diz a cada um: “Recebe o Evangelho de Cristo, que tens a missão de proclamar. Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas” (Ritual da Ordenação dos Diáconos).

A vitalidade da Igreja manifesta-se na santidade dos seus membros e na diversidade das vocações, serviços e ministérios ordenados, numa Igreja conduzida pelo Espírito Santo e adornada com a vida e o testemunho dos Santos. É esta Igreja laical e ministerial, que precisa do ministério ordenado para na proximidade e na comunhão ser uma Igreja acolhedora que escuta a Palavra de Deus, celebra a fé, serve os irmãos, cuida dos pobres, dos doentes e dos necessitados.

É esta Igreja que está em Portugal e na Diocese de Viseu, que precisa de fazer um caminho novo para olhar para a vocação de Diácono Permanente, como um “Ministro da Caridade na Proximidade”, como refere o documento que está a ser elaborado pela Comissão Episcopal de Ministérios e Vocações da CEP,  que esperamos seja publicado bem depressa para chegar ao conhecimento do povo de Deus.  Será um bom instrumento de trabalho para conhecer e promover esta vocação na Igreja, tão necessária para a renovação da Igreja e vitalidade da vida cristã nas nossas comunidades paroquiais. Vivamos esta esperança eclesial na confiança de acolher os novos Diáconos Permanentes como servidores disponíveis da Boa Nova do Evangelho junto dos mais pobres e abandonados da sociedade.

São João Paulo II escreveu na Encíclica a “Missão de Cristo Redentor”, palavras que neste tempo de pandemia se tornam atuais: “A época em que vivemos é, ao mesmo tempo dramática e fascinante. Se, por um lado, parece que os homens vão no encalço da prosperidade material, mergulhando cada vez mais no consumo materialista, por outro lado, manifesta-se a angustiante procura de sentido, a necessidade de vida interior, o desejo de aprender novas formas e meios de concentração e oração. Não só nas culturas densas de religiosidade, mas também nas sociedades secularizadas, procura-se a dimensão espiritual da vida como antídoto à desumanização.

Este fenómeno, denominado “ressurgimento religioso”, não está isento de ambiguidade, mas traz também um convite. A Igreja tem em Cristo, que se proclamou “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,16), um imenso património espiritual para oferecer à humanidade. É o caminho cristão que leva ao encontro de Deus, à oração, à ascese, à descoberta do sentido da vida. Também este é um areópago a evangelizar” (Redemptoris Missio nº 38).

Este texto exorta-nos e ajuda-nos a olhar para o nosso mundo à maneira de Jesus Cristo e inspira-nos nas respostas que somos chamados a dar hoje. A missão de Cristo e da sua Igreja de ensinar, realiza-se na ação evangelizadora, na catequese, no anúncio da Boa Nova do Evangelho, na ação santificadora   da fé, na Eucaristia, nos Sacramentos, na oração e nas diversas celebrações de vida espiritual, onde vislumbramos a riqueza e a grandeza do mistério pascal.

Prestemos hoje uma atenção particular ao problema da pobreza e à dimensão do serviço e da caridade, realizados na proximidade à imagem do Bom Samaritano, porque o Filho do Homem, que nos chamou e consagrou, enviou-nos e deu-nos o seu exemplo: Jesus veio para servir e dar a vida por todos. Foi este o exemplo de amor e de serviço, que Jesus nos deixou como herança e como compromisso apostólico.

A leitura de Atos dos Apóstolos que escutámos, falava-nos do chamamento dos sete primeiros Diáconos da Igreja, que surgiram como resposta a uma necessidade pastoral na comunidade primitiva de Jerusalém. “Escolhei sete homens de boa fama, repletos do Espírito Santo e de sabedoria e encarregai-os dessa tarefa” (cf. Act 6,1-7). Foram escolhidos pelos apóstolos para o serviço das mesas e o cuidado das viúvas, Estevão e os seus companheiros, que vós deveis imitar.

Deste modo fazendo eco da primeira leitura, também os Diáconos devem tornar-se cooperadores dos sacerdotes, para que estes possam dedicar-se inteiramente ao serviço da Palavra e da oração. “Vós como os descendentes da Tribo de Levi dedicareis a vossa vida ao serviço do sacerdote Arão para o louvor do Senhor” (cf. Num 3,5-9).

Os diáconos cooperadores da ordem episcopal e dos presbíteros exerceram no amor o ministério da caridade e cuidarão dos pobres e doentes. O Evangelho que escutámos dizia: “Assim como o Pai Me amou também Eu vos amei: permanecei no meu amor” (Jo 15, 9-7).

No cumprimento dos vossos deveres diaconais tomareis os mandamentos como regra de vida para fazer a vontade de Deus, caminhar no apostolado e crescer na oração, principalmente na oração da Liturgia das Horas em caminho de santidade. Mensageiros da alegria do Evangelho e servidores na caridade à maneira de Jesus, aliviai o sofrimento dos doentes, saciai os famintos, consolai os aflitos, socorrei os necessitados com espírito de compaixão e de ternura, tendo os mesmos sentimentos que tinha Cristo Jesus.

O Diácono Permanente deve ter sempre uma consciência viva do ministério a que foi chamado, no exercício da hierarquia do Sacramento da Ordem e do Matrimónio, na comunhão e unidade na indissolubilidade, na colegialidade sois chamados a viver, em caminho sinodal, todos juntos como mensageiros da alegria, da esperança, do serviço e da caridade.

Fazei a experiência do amor para com Deus e para com os irmãos, procurando dar sentido na vossa vida às palavras de Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi e vos destinei para que vades e deis muito fruto”. Dai muitos frutos com a vossa vida e ministério ordenado, sendo profetas vigilantes e orantes, na esperança e na caridade.

A fidelidade à vocação matrimonial e diaconal inserida no projeto de Deus a vosso respeito, torna o vosso coração disponível e aberto ao acolhimento para o serviço de Jesus, da Igreja e dos irmãos.

Os Diáconos são ordenados para o serviço da Igreja numa Diocese e fazeis parte de um presbitério que hoje vos acolhe. Parabéns às vossas esposas, filhos e família. Neste dia de Santo António, que foi diácono, sacerdote, missionário, mestre e formador, doutor da Igreja, nos estimule na fidelidade à vocação. Ele tem uma pequena frase que diz: “A vida para mim é uma contínua luta”, que esta vos ajude e inspire no vosso ministério diaconal, abençoe as vossas famílias, vos faça felizes no ministério e sementes de novas vocações para a Diocese de Viseu.  Tende coragem e ousadia de ser santos na família, na profissão, no serviço, no exercício do Diaconado Permanente, na Igreja, na paróquia onde nascestes e onde viveis a vossa vocação consagração e missão pastoral.

Vivei em Igreja na obediência ao vosso Bispo, na castidade matrimonial e na pobreza evangélica, para servirdes com autenticidade, lealdade, coerência, confiança, esperança e alegria a vocação a que fostes chamados. Escolhestes para vosso lema: “Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros” Cf. Gal 5,13), imitando as virtudes de Jesus, da Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe, de São José, de São Teotónio, de Santo António de Lisboa, dos Diáconos Santo Estevão, São Lourenço, São Vicente, Santo Efrém e da Beata Rita Amada de Jesus. Ámen.

 

Viseu, Santo António, 13 de junho de 2021

† António Luciano, Bispo de Viseu
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