Tudo é Vosso, Senhor! A minha vida está nas Vossas mãos.
- Há uma vida nova que Deus é capaz de recomeçar em nós.
Dou graças a Deus pelo dom da vida, vocação sacerdotal e episcopal de D. Ilídio Pinto Leandro. Gratidão, memória e ação de graças!
O maior desafio da fé cristã nasce e cresce no seio de uma família, alimenta-se, amadurece e dá frutos de fidelidade e de santidade na comunidade eclesial.
Cada vez mais a família cristã é o reduto dos verdadeiros valores. “A família está e vive no coração da Igreja e alimenta o Mundo e a Sociedade humana. Alicerçada e alimentada no amor, a Família é a Instituição fundamental e a base na construção da Humanidade e da Igreja” (D. Ilídio, Nota Pastoral do Projeto 2017/2019).
D. Ilídio, falava apaixonadamente da “Família Berço de Deus para a Humanidade”, com muita ternura. No Plano Pastoral, que eu retomei no início da minha missão apostólica em 22 de julho de 2018, onde procurei dar continuidade a este projeto de pastoral familiar inserido no ano missionário com o seguinte tema: “Família faz-te à missão!”.
Hoje desafia-nos o projeto do ano “Família Amoris Laetitia”. A pastoral familiar, a pastoral juvenil e aplicação das orientações do sínodo diocesano foram uma preocupação pastoral grande do Senhor D. Ilídio. Aqui junto da fonte da água da vida, onde saciou a sua sede, em comunhão espiritual com ele damos graças a Deus pelo dom da sua vida e pelo ministério episcopal. Felizes aqueles que exerceram o múnus de amar, servir e cuidar dos outros à maneira do Bom Pastor, que sempre nos conduz a pastagens verdejantes.
Não podemos esquecer os pastores que Deus confiou à Igreja: os nossos antepassados, homens ilustres e de bem, que através do ministério ordenado colocaram a sua vida, o seu exemplo, o seu testemunho e amizade em favor do seu povo. São Paulo exortava muitas vezes os cristãos a darem graças a Deus pelos dons recebidos e a louvarem o Senhor em todas as circunstâncias da sua vida.
- Nós somos uma bênção de Deus para os nossos irmãos.
Conscientes da nossa vocação cristã e do bem que somos chamados a fazer, repetimos como São Paulo: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, par sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença” (Ef 1,3-4). Foi esta bênção de Deus, que marcou de modo indelével a vida sacerdotal e episcopal do Senhor D. Ilídio Pinto Leandro, que hoje recordamos na fé, em espírito de amizade, de gratidão humana e eclesial.
Lembremos que a primeira missão do Bispo é anunciar a Boa Nova do Reino, evangelizar e rezar pelo povo que lhe foi confiado, a fim de o conduzir pelos caminhos da caridade pastoral. O caminho do Bom Pastor é o mesmo do seu rebanho, umas vezes vai à frente, outras vezes está no meio e muitas vezes caminha atrás do rebanho. O importante é que o Pastor tenha o cheiro das ovelhas (Papa Francisco). Jesus deu a sua vida por nós, para compreendermos o que é o amor, portanto nós também devemos dar a vida no amor pelos irmãos.
O Evangelho mostra-nos como devemos louvar o Pai, repetindo as palavras de Jesus. “Eu te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos simples e aos pequeninos os mistérios do reino”. Este é um convite feito a cada um de nós no tempo, para viver a eternidade. “Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”. O Senhor lembra-nos: “O meu jugo é suave e a minha carga é leve”. Este é o modo específico de Jesus se dar aqueles, que querem viver e buscar os mistérios do Reino.
- A gratidão, a memória e ação de graças são um dom.
A gratidão que guarda a memória dos acontecimentos vividos no coração, mostra-nos uma vida cheia de dons, rica de gestos e de sentimentos humanos e cristãos, que não podemos esquecer. Faz-nos lembrar o modo singular e afetuoso como o Senhor D. Ilídio, se dirigia a cada um de nós: “Caríssimo”! “Caríssima”!
Não era apenas a repetição simples de uma palavra, mas um gesto cheio de nobreza, que transbordava do interior do seu coração e da grandeza da sua alma de Pastor. O Papa Francisco gosta muito de nos recordar, que através de palavras e gestos simples, somos capazes de amar, de saudar, de comunicar, de criar empatia com os outros, de modo a mudar o coração e a transformar as nossas vidas. O coração de um Bispo é sempre um coração de pai, de irmão e de amigo, que à imagem de Cristo o Bom Pastor acolhe, ama, reza, perdoa e sofre com o seu povo. À luz deste desafio cristão, o Senhor D. Ilídio ensinou-nos a servir e amar a Cristo e a Igreja na fidelidade ao seu lema: “Convosco, por Cristo, para todos”.
Foi movido por esta esperança pascal que viveu a confiança no Ressuscitado, sublinhando no Plano Pastoral de 2014-2016, o horizonte da sua vida e da sua fé, ao convidar a Diocese a “Caminhar com o Ressuscitado!”
Na fidelidade à Igreja e na comunhão com o Papa Francisco, lembrava a atualidade e a urgência de assumirmos os ensinamentos da “Alegria do Evangelho”, convidando-nos a todos a viver a centralidade da fé cristã: “A sua ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual” (EG 276).
À luz da alegria da Pascal dizia, que “o ícone de Emaús (cf. Lc 24,13-35) é verdadeiramente paradigmático no que respeita à vida e missão da Igreja. Se houve uma ideia comum e transversal, nos encontros preparatórios deste Plano Pastoral é que ele se deveria inspirar no encontro de Emaús e isto porque: Nos centra em Cristo Ressuscitado e a Igreja só tem sentido quando se sente Povo Ressuscitado, a caminho da “Terra Prometida” (…). É no encontro com o Ressuscitado que os discípulos O reconhecem e se reconhecem, “em Comunhão para a Missão”.
- O encontro com o Ressuscitado gera uma vida nova.
Cristo Ressuscitado leva-nos a contemplar a missão de um irmão, de um amigo e de um Pastor, que continua a marcar a nossa vida com “a força do Ressuscitado”, aquele que “cria constantemente a Igreja” e nos convida a ser “testemunho do amor como sinal do Ressuscitado”. Somos chamados a partir do Ressuscitado a viver o acolhimento e o compromisso concreto em favor de todos, de modo especial junto dos que vivem nas periferias.
A consciência da pequenez da nossa fé leva-nos a acreditar que “as almas dos justos estão nas mãos de Deus” e foram convidadas a participar no banquete das núpcias do Cordeiro.
A nossa peregrinação à paróquia de Pindelo dos Milagres, de modo particular a esta comunidade de Rio de Mel, tem uma dimensão espiritual profunda, que encontra no mistério da Eucaristia, banquete, festa, memória e ação de graças o sentido da plenitude, que fez da vida de um homem, de um cristão, de um sacerdote, de um pároco, de um professor e formador, de um Bispo que nasceu, cresceu e viveu nesta terra, alguém muito feliz e próximo de todos.
Porque foi alguém que acreditou e confiou no Senhor, deixa marcas indeléveis, que nem a morte, nem o tempo, nem a pandemia conseguem apagar. D. Ilídio ficará para sempre no coração e na memória de toda a sua família, dos seus amigos, desta paróquia e daqueles que trabalharam e conviveram com ele na Diocese.
No mistério da Eucaristia diante da vida e da morte, somos convidados a proclamar a nossa fé em Cristo Morto e Ressuscitado. “Eis o Mistério da Fé: Anunciamos Senhor a vossa Morte, proclamamos a Vossa Ressurreição, vinde Senhor Jesus”.
- Vinde a mim todos vós os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei.
O Senhor Jesus veio, vem e virá, para nos fazer participar no festim do banquete da eternidade. “Deus preparou no alto do monte um banquete de manjares suculentos para todos os povos do mundo, um banquete recheado de boas comidas e vinhos finos. O Senhor enxugará as lágrimas de todas as faces da terra (…). “Eis o nosso Deus!” (cf Is 25,6ª.7-9), que nos vem salvar.
Deus transmitiu-nos a fé para celebrar os divinos mistérios em ação de graças e sufrágio. Ao fazer memória do testamento espiritual, que o Senhor D. Ilídio deixou à sua família, ao presbitério, à diocese, aos seus conterrâneos e ao grupo de amigos que hoje lhe promove esta homenagem de gratidão.
Estamos aqui para recordar as suas raízes, os seus pais, para confortar a sua família e amigos, sentindo saudades da sua partida para a Casa do Pai. Depois de uma vida ao serviço da Igreja e da sociedade, estamos aqui para honrar os seus despojos e viver a esperança na vida eterna, na Ressurreição, que Jesus Cristo prometeu a todos aqueles que vivem e morrem no Senhor. Que São Domingos e a Senhora do Rosário nos ajudem através da oração e da confiança a sermos perseverantes na fé, percorrendo o caminho que nos conduz ao céu.
- Convosco, por Cristo, para todos.
A palavra “convosco” do seu lema lembra-nos a sua comunhão na missão da Igreja, ao serviço do povo de Deus em peregrinação. Caminhando juntos chegaremos todos mais unidos e em segurança ao coração de Cristo. Na Eucaristia da Vigília Pascal, o Santo Padre dizia: “Deus até pode construir uma obra de arte a partir dos escombros do nosso coração; a partir mesmo dos pedaços arruinados da nossa humanidade, Deus prepara uma história nova. Ele sempre nos precede: na cruz do sofrimento, da desolação e da morte, bem como na glória de uma vida que ressurge, duma história que muda, duma esperança que renasce”. Jesus Ressuscitado, nunca deixa de nos surpreender. “Mesmo que tudo te pareça perdido abre-te maravilhado à sua novidade: surpreender-te-á. Com Ele, a vida mudará. Porque, para além de todas as derrotas, do mal e da violência, para além de todo o sofrimento e para além da morte, o Ressuscitado vive e guia a história” (Papa Francisco, Vigília Pascal, 3 de fevereiro de 2021).
Nesta oração de ação de graças e de sufrágio, lembremos o amor como este Pastor serviu a Igreja Diocesana procurando ser uma árvore “enraizada em Cristo”, que floriu e frutificou em muitas frentes de apostolado onde muitos encontraram através do seu ministério “a vida em abundância”. Caminhemos animados pela esperança pascal que nos vem da segunda leitura. “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1 Jo 3,14). Quem está em Cristo é uma nova criatura e o Ressuscitado é a razão de ser da sua vida.
Vive quem ama como Cristo amou. O Senhor D. Ilídio deixou-nos este exemplo, este testamento espiritual e pastoral, do qual não podemos desviar o nosso caminho, A pastoral familiar, a pastoral juvenil e as conclusões de um sínodo, que devemos por em prática foram algumas das suas preocupações pastorais para Diocese.
Fica-nos a memória cheia das boas recordações e o testemunho de um homem coerente, um sacerdote zeloso, alegre e frontal, imbuído de um espírito de simplicidade, humildade, próximo e amigo de todos no serviço pastoral e em caminho sinodal. Rezemos pelo seu eterno descanso. “Orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus” (1Tes 5,16).
Celebramos o 15º aniversário da sua Ordenação Episcopal no próximo mês de julho e recordamos os 16 meses após a sua morte, envolvida em mistério de sofrimento e de dor, onde ele encontrou em Cristo Morto e Ressuscitado a vida e a esperança do seu caminho pascal em plenitude.
O seu lema episcopal, imbuído de uma forte dimensão cristológica e eclesial, bebeu também na espiritualidade de Santo Agostinho, que como Bispo de Hipona dizia ao seu rebanho: “Convosco sou cristão, para vós sou Bispo”. D. Ilídio confiou-nos também o seu lema: “Convosco, por Cristo, para todos”. Como Igreja somos convidados a descobrir a pessoa de Jesus Cristo, o Ressuscitado, que é tudo e está em todos. Que esta celebração de sufrágio o ajude a contemplar a visão beatífica de Deus e a sua glória, oferecida como prémio aos seus eleitos. Ámen!
Rio de Mel, 25 de junho de 2021