O Lema da minha Ordenação Sacerdotal: Tomai e Comei, isto é o Meu Corpo (Mc 14,12-16)
Como o leio hoje: A ceia é um momento de alegria, partilha e comunhão. Descartando comer o cordeiro pascal, Jesus apresenta-se como o pão que dá a vida, e o vinho que alegra a todos, inaugurando a nova celebração do Reino de Deus. A Eucaristia é a celebração da comunidade viva, animada pelo Espírito, unida em torno de Jesus, empenhada em cumprir a vontade do Pai, que é vida para todos.
Por que o Senhor utilizou pão e vinho? Porque são os alimentos mais simples, mais comuns da mesa dos judeus. O pão e o vinho eram do dia-a-dia do pobre e do rico. Ainda hoje, nos países da bacia do Mediterrâneo, ao sentarmo-nos para o almoço ou jantar, encontramos logo na mesa uma garrafa d’água, uma garrafa de vinho e pão fatiado. Pois bem: Jesus não quis ser o Jesus dos grandes momentos, o Jesus de algumas poucas ocasiões; ele quis ser o Jesus de todos os dias, o Jesus de todos os momentos, o Jesus dos pobres e dos ricos, o Jesus de todos e de tudo. Por isso mesmo escolheu sinais tão ínfimos, tão humildes.
Nestes 25 anos de sacerdócio, a forma como vejo a Igreja: A Igreja mudou muito nestes últimos 25 anos. Passou de uma Igreja de números, de multidões a uma Igreja mais pequena, mais centrada em Cristo. Primeiro, é uma Igreja rumo a uma comunidade eclesial mais espiritual, mais mística, e por isso também mais essencial, não se deixando perder em pequenas coisas. A pandemia ensina-nos isso: a pegar no essencial.
Trata-se de uma Igreja que se nutre da experiência de Deus, da união com Ele, porque ainda é válida a antiga afirmação de Paulo VI na “Evangelii nuntiandi”: vivemos na Igreja um momento privilegiado do Espírito Santo. A busca de mais oração, de interioridade, sinaliza muito claramente, mesmos nas mais estranhas buscas, que é um momento de aprofundamento dessa experiência. Uma Igreja que pode caminhar rumo a uma mistagogia mais explícita, que caminha, passo a passo, mistério dentro, para o encontro vivo com Jesus Cristo, que nos dá a graça de viver nele. Uma das expressões que considero mais bonitas do Novo Testamento é «viver em Cristo» – talvez seja a grande meta para cada um de nós.
Hoje sentir-se chamado é: sentir-se escolhido por Deus para viver a graça e o desafio.
É Jesus quem escolhe o padre e o envia em missão. Em Seu nome, o sacerdote se coloca ao serviço da comunidade cristã, na missão de acolher, perdoar, unir, e motivar à vivência da fé.
Um episódio que me marcou nestes anos foi: Uma senhora, minha paroquiana, idosa, a quem fui chamado a ir confessar e levar a Sagrada Comunhão. No fim, estando ela muito serena perguntei-lhe se precisava de algo mais da minha parte, e ela muito calmamente tira de debaixo da travesseira um terço, já nalgumas partes remendado com umas linhas entre as contas e diz-me: Senhor Padre, tenho este terço já muito usado de tanto rezar e lá me desfiou o rosário de todos, família, amigos, vivos e defuntos por quem rezava diariamente, o senhor Padre não teria aí um mais novo? E eu, envergonhado tirei o meu da algibeira, que estava bem menos usado e com emoção o dei à senhora pedindo-lhe que também rezasse por mim…
Para os próximos anos, sinto-me: Sinto-me confiante, apesar de todas as dúvidas, tribulações e aflições, sinto-me confiante. Sinto-me com Esperança. É a virtude da esperança que nos leva a buscar a Deus sem cessar e sem trocá-lo por nada nesta vida. “É no silêncio e na esperança, que reside a vossa força” (Is 30,15).