Observatório Pastoral
Tendo bem presente a ideia de que somos uma carta enviada por Deus, a pergunta “Posso contar contigo?” mantém-se bem firme perante cada um de nós. No nosso ouvido retine com toda a força a bela expressão “Deus (ch)ama-te”… E com ela, a eterna dúvida: Senhor, que queres que eu faça? Perante esta inquirição vem-me à memória as palavras de disponibilidade tão belamente formuladas por S. João Crisóstomo: “Senhor, seja feita a Tua vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Tu queres que eu faça… Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico-lhe agradecido; se me chama para qualquer outro lado, sempre lhe darei graças”. (Ofício de Leitura)
Hoje, mais que nunca, urge tentar perceber a missão da Igreja no que respeita a questão vocacional. Assim e, partindo das palavras de Fernando Pessoa – “Deus quer; o Homem sonha; a obra nasce” – podemos realçar novamente a frase tão belamente expressiva do anterior Bispo de Viseu, A minha vocação é o meu caminho para eu ser feliz! Eis o grande desafio vocacional, na e para a comunidade, pois esta surge-nos como primeiro patamar para o encontro eclesial. É na comunidade que olhamos, procuramos e, por muitas vezes encontramos o nosso rumo vocacional.
É nesta comunidade viva, que podemos contemplar a diversidade de dons que cada crente pode (re)descobrir em si e colocar ao serviço dos outros. É aqui que podemos descortinar os mais variados ministérios que enriquecem a Igreja. Permitam-me que destaque o ministério do acolitado, tão belo, tão necessário e, em muitos casos, tão urgente. Não olhemos para o acólito como mero bibelot de altar, mas sim como corresponsável na dignificação de toda a ação litúrgica. Entre ele e o sacerdote existe relação e cumplicidade, que permitem celebrar a Eucaristia de forma mais ativa e participativa.
Aproveitemos este contexto pandémico para reavivar os vários ministérios que a Igreja sustém, em especial do Acólito, onde os Bispos portugueses, na sua última nota pastoral salientaram que o acolitado não é um mero serviço funcional, mas um ministério que abrange crianças, jovens e adultos, rapazes e raparigas, que devem ser pastoralmente acompanhados para riqueza e edificação, não apenas dos próprios, mas de toda a comunidade. Ou ainda como dizia João Paulo II, o Grupo de Acólitos como viveiro de vocações, não apenas sacerdotais ou religiosas, mas se bem acompanhado, para a descoberta da verdadeira vocação pessoal e comunitária. Atrevemo-nos a entoar o provérbio africano: se queres chegar depressa corre sozinho; se queres chegar longe, corre juntamente com os outros (em comunidade).
Ninguém disse que esta vida de encontro em comunidade é fácil… Mas também não é impossível! Por isso a questão: ‘Posso contar contigo?’ Também a São Tarcísio e a Francisco Marto, a Teotónio ou até a Mateus, lhes foi colocada esta mesma pergunta. Também eles responderam sim… É uma questão de vontade… É uma questão de vocação… É uma questão de amor…