Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Observatório Pastoral

 

Com tristeza se constata uma realidade de Igreja na Europa, onde a estrutura eclesiástica se tornou uma prestadora de serviços. Não diferente, em Portugal, percebe-se este mesmo aspeto de “cristalização” da fé. Assim como a vivência da fé se demonstra fragilizada pela mentalidade secular, isto é, onde a centralidade da vida social dispensa Deus, o homem pós-moderno assume um lugar de destaque.

Com uma mentalidade voltada para a independência das estruturas, o homem atual, deseja desvincular-se de qualquer relação de tutela, como se essa se revelasse uma fraqueza. Contraditória essa mentalidade! Quanto mais se desenvolvem as novas tecnologias, os meios de comunicação social, internet, com todos os seus avanços, mais dependentes nos tornamos delas.

Pois bem, como entender essa dependência sem reagir com rebeldia, como se fossemos uns fora da lei? Como se fossemos pessoas alienadas, sem credo e sem convicções. Como nos comportarmos frente às “exigências” de cada religião, que na sua grande maioria se tornaram estruturas cristalizadas?

Existe uma conceção equivocada na vivência religiosa de muitas pessoas que usam a religião somente para cumprir preceitos adquiridos por práticas “tradicionalistas”, pressionadas pela “sociedade líquida”, que vê a religião somente como vitrine para a realização de atos sociais, e como uma “má” prestadora de serviços.

Contra fatos não há argumentos! Porém, perceber tal realidade e mais importante, tentar corrigi-la, faz-nos conscientes de que é preciso mudar esta mentalidade e sobretudo, esta prática “engessada” de se viver uma fé sem expressão e sem poder de atração sobre as pessoas. Para a Igreja do século XXI, o desafio pastoral é fazer a passagem, de uma Igreja Paroquial, conhecida pela sua estrutura física e patrimonial, para uma Igreja Comunidade, identificada pela prática de um povo de fé, onde os atos religiosos se vivem com profunda devoção, e vive mais preocupada com a Missão, do que com a manutenção. Uma Igreja viva capaz de atrair as novas gerações no desafio constante de levar a Boa Nova da salvação.

Quando uma Paróquia redescobre este processo de renovação, acontece uma conversão pessoal e integral. Acontece o milagre da com+unidade, onde os cristãos se voltam para unir forças, talentos, capacidades na alegria de se colocarem ao serviço pelo bem comum.

Fazer esta passagem é algo urgente. É uma tomada de decisão particular que terá os seus efeitos no coletivo. É necessário que cada um se consciencialize da importância de viver a intimidade da fé, de buscar primeiro o essencial da espiritualidade, de abrir mão dos costumes que não dizem mais nada, pelo contrário, só escravizam e se tornam barreiras que impedem que outros possam ser acolhidos na comunidade.

Ou nos deixamos converter e voltamos para o essencial da religião, ou continuaremos a distanciar-nos, a perder-nos em coisas supérfluas, em devoções que continuarão a fazer de nós espectadores, clientes, “número”, simplesmente estatística de religião.

 

Pe. Raimundo Ferreira Araújo 
CategoryDiocese, Pastoral

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