Observatório Pastoral
Inicia-se este ano um percurso sinodal que terá o seu (pseudo)término com a reuniões do Sínodo dos Bispo em outubro de 2023, na cidade de Roma. O caminho sinodal iniciado difere daquele que foi trilhado ao longo dos mais de cinquenta anos desde a criação da referida estrutura de governo, já que o caminho proposto procurará abranger a Igreja como um todo, buscando uma conversão sinodal que possibilite o amadurecimento da realidade eclesial na comunhão. O sentido e objetivo do Santo Padre com o Sínodo dos Bispos de 2023, e todo o percurso para aí chegar, é a criação de uma interação eclesial que pense as questões para além da hierarquia, mas olhe a Igreja como comunhão na fidelidade ao Senhor.
O caminho da sinodalidade é fonte de um grande esforço de conversão da Igreja num espaço de caminho em conjunto, redescobrindo a riqueza da diversidade cultural proporcionando um crescimento espiritual na unidade, na ação do Espírito Divino em todos e cada um dos batizados. A verdade é que o caminho sinodal não é um fim em si mesmo, mas o princípio de uma caminhada que não se quer terminada e a data de fim é apenas a marca do início de um novo caminho…
Desta forma, será necessário fazer uma distinção clara entre aquilo que é um Sínodo dos Bispos, definido no Código de Direito Canónico no c. 342, e um Sínodo Diocesano, tal como aquele que foi vivido na Diocese de Viseu na década transata.
O c. 342 afirma o seguinte: «O Sínodo dos Bispos é a assembleia dos Bispos escolhidos das diversas regiões do mundo, que em tempos estabelecidos se reúnem para fomentarem o estreitamento da união entre o Romano Pontífice e os Bispos, para prestarem a ajuda ao mesmo Romano Pontífice com os seus conselhos em ordem a preservar e consolidar a incolumidade e o incremento da fé e dos costumes, a observância da disciplina eclesiástica, e bem assim ponderar as questões atinentes à acção da Igreja no mundo.» Estamos perante uma estrutura de governo que, ao contrário dos sínodos diocesanos, prima pela estabilidade, manifestando uma Igreja que se quer em constante sinodalidade, sendo permanente por sua própria natureza e esta constância tem a sua visibilidade no carácter permanente do seu Secretariado. Deste modo, o Sínodo dos Bispos é a grande manifestação da colegialidade da Igreja, representando o Colégio Episcopal. Contudo é necessário que se realce o seu carácter consultivo, pois tem como finalidade dar o seu parecer ao Romano Pontífice sobre os temas que o próprio lhe apresenta para reflexão.
Por tudo o que foi afirmado, se percebe que o grande objetivo do Romano Pontífice não é apenas a inquirição sobre o sentir da hierarquia, mas abrir essa reflexão a toda a comunidade eclesial, buscando um genuíno sensus fidei. Diante das dificuldades e desafios lançados pela crise pandémica atual é necessário que se renove e cresça o desejo de se fazer caminho em conjunto, procurando que o distanciamento social seja vencido pela proximidade de coração e pela abertura à ação do Espírito Santo, e, por tudo isso, o nº 9 do Documento Preparatório afirma o seguinte: «A capacidade e imaginar um futuro diferente para a Igreja e para as suas instituições, à altura da missão recebida, depende em grande medida da escolha de encetar processos de escuta, diálogo e discernimento comunitário, em todos e cada um possam contribuir.»