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Observatório Pastoral

 

«A natureza deste tempo é comandada pelo seu termo, ou seja, a Páscoa, que é a celebração da Paixão e Ressurreição do Senhor. A Quaresma, se tem um sentido, é precisamente o de nos preparar para uma inteligência da Páscoa integral a fim de nos dispor também a revivê-la integralmente. Como descobrir este sentido da Quaresma?» (Luís Ribeiro de Oliveira, Origem e Evolução histórica da Quaresma, in O tempo da Quaresma, SNL, p. 9)

Para quem tem prática religiosa, a Quaresma assume-se como um tempo fundamental para crescer na fé e redescobrir a essência de um caminho que se deseja fecundo no amor de Deus. Mas, cada vez mais, a sociedade pós-moderna e pós-espiritual, olvida o sentido profundo da Quaresma porque se agarra não ao sentido do caminho, mas aos gestos meramente externos que incorporam esse sentido, focando-se naquilo que é importante, mas não é essencial. Diante da sociedade contemporânea quase que se poderia dizer que a Quaresma deixou de fazer sentido porque existe uma dificuldade extrema em fazer uma verdadeira e profunda reflexão sobre a vida e sobre os projetos que se desejam construir e a forma como são construídos.

A Quaresma insere-se, do ponto de vista antropológico, na necessidade de se fazer um crescimento coerente, reconhecendo os limites próprios da condição humana e o longo caminho a percorrer num ideal de superação constante. Basta contemplar as formações profissionais, nas mais diversas áreas, a que a sociedade civil evoca constantemente, como verdadeiras quaresmas, não pelos gestos externos, mas porque implicam um “sempre se aprende alguma” e um “existem erros que se cometem pelo hábito”. A Quaresma serve para muita coisa e serve, fundamentalmente, para que a verdade de cada um venha ao de cima e se proporcione encontro com o totalmente outro.

Desta forma, para o cristão é essencial fazer caminho na redescoberta daquilo que é a Quaresma e o que significam os gestos a ela ligados, já que estamos perante um tempo fundamental para a vida do dia a dia e não apenas para a caminhada de fé. É verdade que este tempo surgiu na necessidade da preparação próxima dos Catecúmenos para o Batismo na Solene Vigília Pascal, mas ontem, hoje e amanhã é muito mais do que isso porque é um lugar de reflexão e de busca da verdade. Mesmo para aqueles que não acreditam em Jesus Cristo ou numa visão transcendente da vida, o esforço do reconhecimento dos limites (Jejum), a reflexão acerca da vida e do caminho que se realiza (Oração) e a abertura ao outro e às suas necessidades (esmola/caridade) são atitudes fundamentais para que se caminhe com coerência e se descubra aquilo de que o ser humano necessita para a sua realização pessoal e para a busca do bem comum.

Num mundo marcado pelo egoísmo e pela noção exótica de uma vida perfeita, a Quaresma é o momento para o reconhecimento de tudo tem limites, excetuando-se o amor cristão de entrega e doação da vida, e todos, mesmo os mais poderosos, não são mais do que “pó” e nesse esforço constrói-se a base de um projeto humanista, capaz de proporcionar um encontro com o homem no seu estado mais puro e, acima de tudo, com o Homem Novo, Cristo Ressuscitado.

 

Pe. Sérgio Pinho
CategoryDiocese, Pastoral

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