Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal
  1. Um dia senti-me querido e amado por Deus, deixei tudo e segui Jesus.

A vocação é um dom e um mistério. É uma história de amor e de graça, de perguntas e respostas. Também é assim a história da minha vocação e da vossa. Deixei-me tocar por Deus e pelo seu mistério. Tão próximo de mim o encontrei, que até pude falar com Ele, reparti-Lo com as minhas mãos. Deixei que entrasse na minha vida, e assim começou uma linda história de vida e de amor: a minha vocação sacerdotal. Rezei muito… falei… perguntei… fiz silêncio, rezei e escutei-O. Ele chamou por mim e disse o meu nome, como fez com o pequeno Samuel. Eu respondi: Aqui estou; falai, Senhor, que o vosso servo escuta. Disse-me ainda: Desde o ventre de tua mãe, eu pensava em ti, eu te chamei, eu te escolhi. Cativou-me e eu deixei-me cativar. Seduziste-me, Senhor, eu deixei-me seduzir, e foi tua a vitória.

Jesus passou assim pela minha vida, pela minha casa; chamou-me pelo meu nome e disse-me: “Vem e segue-Me, e eu farei de ti pescador de homens”. Eu deixei tudo e segui Jesus. Deixei muitas coisas e também as redes. Animado por um grande ideal, respondi ‘sim’ e Ele transformou toda a minha vida. O milagre aconteceu na minha vida, na nossa vida. “Não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos chamei e vos escolhi para que vades e deis muito fruto”.

Assim começou a história da vocação sacerdotal de cada um de nós. Convido-vos a escrever a história da vossa vocação sacerdotal e a rezá-la (…). Chamado a viver o ministério sacerdotal com alegria, desprendimento e perseverança na fidelidade ao Evangelho, recordo as palavras que Jesus disse um dia aos seus discípulos: “Quem deita a mão ao arado e olha para trás, não é digno de mim”. Aqui estou, Senhor, faz de mim um vaso de eleição; sem vaidade, te peço. “Faça-se em mim a tua vontade”.

  1. Sacerdotes segundo o coração de Cristo, servidores da alegria do Evangelho.

Ao celebrarmos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e ao vivermos a Jornada Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, convido-vos a reviver espiritualmente a história da vocação e missão como memória agradecida. Dai testemunho da vossa vida sacerdotal e criai nas vossas comunidades paroquiais uma verdadeira cultura vocacional. “Os padres são necessários, porque Cristo é necessário” (São João Paulo II). Os sacerdotes são chamados a ter um coração segundo o coração de Deus: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração”.

A identidade do sacerdote deve brotar da sua identificação com Cristo, que convida cada um a ser uma pessoa humana integra, equilibrada, responsável, capaz de cuidar de si mesmo e dos outros, na fidelidade à verdade do seu ser ontológico, enquanto ministro ordenado para o serviço do Senhor. Na vivência dos valores humanos, morais, éticos, deontológicos, evangélicos e espirituais, cada um deve procurar ser cada vez mais um ícone vivo da beleza de Cristo, o Bom Pastor.

Tomando consciência do barro de que somos feitos, não podemos esquecer o tesouro escondido que transportamos na nossa vida. Convido todos os sacerdotes e diáconos, em comunhão com o vosso bispo, a renovarmos as nossas promessas sacerdotais, com o coração, a mente e a vontade, segundo os desejos e os sentimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

  1. A vida e o testemunho do ministério sacerdotal mergulham na riqueza do Coração de Jesus.

O Senhor convida-nos a viver uma vida que conduz à santidade, com um itinerário onde o desprendimento e o seguimento de Jesus nos levam a identificar a riqueza essencial do nosso ministério, em autenticidade, exemplaridade, proximidade e atenção aos mais necessitados. Só um coração novo, semelhante ao de Jesus, é capaz de amar mais e sem limites.

O sacerdote deve ser sempre o profeta do anúncio da palavra, da oração, da comunhão e da caridade, sempre cheio de ternura e compaixão. Nestas quatro dimensões encontra o sacerdote, em cada dia, a presença de Jesus Cristo, sumo sacerdote na sua vida: o alimento para fazer a vontade do Pai, a luz e a força da missão e do apostolado, a alegria da vida espiritual centrada na Eucaristia e a caridade vivida no serviço fraterno.

Experimentemos hoje o dom da graça particular recebida no dia da nossa ordenação sacerdotal, que nos configurou com Cristo sacerdote, profeta e rei. Deixemos que o óleo da alegria, que nos ungiu e nos consagrou para nos identificarmos com Cristo, Servo e Pastor, seja, para cada um de nós, a presença do Espírito Santo, que renova todas as coisas e nos oferece o “vinho novo em odres novos”.

O sacerdote é chamado em cada dia a seguir Cristo na pobreza, na castidade e na obediência. Este é um caminho de beleza espiritual e de grandeza humana, que nos identifica com o bom Pastor, no projeto da nossa própria santificação. O sacerdote deve viver a vida em santidade, procurando testemunhar este dom junto do povo que lhe está confiado: “Sede santos, como o vosso Pai celeste é santo”. A santidade de vida deve ser um testemunho constante na vida do bispo, dos sacerdotes e dos diáconos. Nós devemos santificar-nos no exercício do nosso ministério, cuidando de nós e dos outros imitando o bom Pastor, com alegria, disponibilidade e em fraternidade.

 

  1. O sacerdote como cuidador e curador dos irmãos, ícone do Bom Samaritano.

Como bom Samaritano, é chamado a curar as feridas dos irmãos, a cuidar da Igreja de Cristo, a cuidar da vinha do Senhor, a dar a vida pelo rebanho, como o bom Pastor, a dar estabilidade às suas comunidades, a edificar a casa sobre a rocha, a fazer cair muros e a construir pontes de diálogo e de solidariedade. O sacerdote deve levar as pessoas a uma conversão pessoal e à renovação da fé; a servir com dinamismo os irmãos, tornando-se um evangelizador com espírito.

À imagem do Bom Pastor, a partir da profecia de Ezequiel e da parábola de Jesus em Lucas, de acordo com estes textos escutados, o pastor não olha aos méritos das ovelhas, mas apenas às situações em que se encontram e ao seu desejo de ajudá-las. “Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento” (Lc 15,7).

Contemplar o amor do Coração de Jesus a partir da imagem do Bom Pastor é acentuar o estilo de como devemos pastorear o rebanho. “Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8).

A Palavra de Deus é o verdadeiro farol que deve iluminar a nossa vida e levar-nos ao caminho da conversão. O sacerdote deve ser por isso o homem que escuta e estuda a Palavra de Deus, a medita no seu coração, faz dela o seu alimento e ensina-a com alegria ao seu povo. Como nos lembra o Papa Francisco, cuidemos de nós e empenhemo-nos com zelo na nossa formação e na formação dos leigos.

O sacerdote é chamado a ter uma vida mergulhada na oração e na contemplação, de modo a viver com disponibilidade a sua missão. Deve ser um cumpridor zeloso dos seus deveres, como bom administrador das coisas de Deus e da Igreja. A santidade dos sacerdotes estimula a fidelidade na vocação através de uma vida integra e coerente. O testemunho de alegria e de fidelidade do sacerdote, enquanto homem espiritual e com responsabilidade humana, leva-o a cultivar a dimensão da escuta e do diálogo na relação com o seu povo.

  1. O compromisso sacerdotal em presbitério em caminhada sinodal.

“Para mim viver é Cristo. Já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”. Quais são os nossos pecados, as nossas misérias. Jesus quer a nossa conversão, a nossa mudança de vida. Jesus quer a nossa mudança interior. Deus quer para Ele a nossa vida.

Quais são as nossas virtudes, os nossos desafios, as nossas oportunidades:  Com espírito sinodal, caminhemos juntos na comunhão, participação e missão. Isto é fraternidade sacerdotal em presbitério. Sejamos amigos de todos, vivendo a caridade fraterna e construindo um presbitério renovado com a graça do Espírito Santo. O sacerdote deve ser uma pessoa de bem, com princípios e valores, pacífico e correto, irmão e amigo, disponível e sincero, verdadeiro e respeitador, honesto e transparente, hospitaleiro e acolhedor, de boas contas, não dado ao vinho, puro de coração, sincero para com todos, com uma personalidade bem formada e equilibrada, a viver o celibato como dom, casto, pobre, obediente, simples, humilde, não arrogante, não abusador do poder e de outras fragilidades, não explorador de ninguém, de boas maneiras, ponderado, exemplar e cheio de esperança para com todos. Deve ser um perito em humanidade e espiritualidade, testemunha do amor fraterno na relação com Deus, a Igreja e os irmãos.

Peço a Deus, à Santíssima Virgem, Mãe dos sacerdotes, a todos os Santos e a todo o povo de Deus perdão pelas nossas faltas e infidelidades no exercício do ministério sacerdotal. Por todo o tipo de mal causado ao próximo, principalmente aos que foram vítimas de abusos contra crianças, adolescentes, jovens, indefesos, pobres e adultos vulneráveis. Perdão, Senhor, perdão. Por tão graves pecados cometidos por bispos, sacerdotes, diáconos e responsáveis pela Igreja, perdoai-lhes, Senhor. Peço perdão a todas as vítimas que sofreram abusos sexuais por parte de membros do clero, que Deus a todos conforte e cure as suas feridas. Caros sacerdotes e diáconos, entrego-vos e consagro-vos ao Coração de Jesus, rico de misericórdia e cheio de compaixão para connosco. Ámen!

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, 24 de junho de 2022

+ António Luciano, Bispo de Viseu

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