Observatório Pastoral
A realidade pastoral com que a Igreja de hoje se confronta, num mundo que mudou e conduziu à privatização da vida e da espiritualidade, bem como, a uma mentalidade de espectadores que parece fechar os olhos à existência de Deus, exige uma verdadeira conversão. Uma conversão que conduza a uma mudança de paradigma no agir eclesial orientada, sobretudo, para a valorização da família e das relações interpessoais, enquanto modelo e estereótipo que dirige a pastoral das nossas comunidades.
No quadro da evangelização atual situamo-nos num contexto em que Deus não é mais um pressuposto nem uma evidência para a vida das pessoas. Como referia J. Ratzinger, no ano jubilar de 2000: «O verdadeiro problema do nosso tempo é a “crise de Deus”, a ausência de Deus, camuflada de uma religião vazia […] Tudo muda, se Deus está ou não está. Infelizmente também nós cristãos vivemos frequentemente como se Deus não existisse».
Perante os desafios atuais, a Igreja precisa de uma atitude pastoral renovada que invista inteligente e eficazmente no seu agir quotidiano com uma visão de futuro. Uma visão que não insista, por um lado, somente em permanecer no errado posicionamento do “sempre se fez assim: porquê mudar?”, nem, por outro lado, na anulação ou menosprezo daquilo que melhor se tem feito. É, por isso, inevitável uma mudança de direção. Esta terá de passar pela tomada de consciência dos sujeitos pastorais sobre o que é essencial ou acessório (o que foi herdado da Tradição) e o que se deve manter ou deixar (daquilo que hoje o mundo oferece), na participação da vida e na missão da Igreja, perante os fenómenos culturais. Um dos pontos de partida que o Papa Francisco aponta para uma Igreja atualizada e compreendida, é a mudança de linguagem e o modo de apresentar a sua mensagem kerigmática.
Em rigor, hoje o mundo não é o mesmo, está diferente, exigindo novos processos para a transmissão da fé e para o discipulado missionário. A tendência que se desenha contemporaneamente, é a de um cristianismo cada vez menos numeroso na estatística, e cada vez mais na convicção. Portanto, em decréscimo na quantidade dos membros do Povo de Deus, mas em progressão na sua qualidade no que concerne à coesão, à vontade, à paixão e à entrega.
Na procura de estradas para fazer ressoar o evangelho na cultura atual, ninguém tem receitas. No entanto, impera a tarefa e desafio para as nossas comunidades, de fazer traduzir, com destreza e criatividade, uma “antropologia adequada”, que coloca a pessoa no centro e é capaz de uma autêntica inculturação da fé que faça ressoar e ecoar a significativa e interpelante Palavra de Deus.
De facto, uma antropologia adequada e desenvolvida a partir da “Gramática da Sociabilidade”, permite à pessoa na sua liberdade reconhecer-se como um ser em relação com os outros e com Deus, oferece um equilíbrio emocional e dá sentido aos diversos âmbitos da vida experimentados e vividos em três grandes campos do viver humano: «o campo da família (com o seu crescimento interno e educação dos filhos); o campo da vida social e do trabalho; o campo da saúde e dos tempos livres».