Observatório Pastoral
Já todos, certamente, ouviram falar nas “Crónicas de Nárnia”, filme que fez grande sucesso há alguns anos atrás (o produtor deste filme, Douglas H. Gresham, era o enteado de Lewis). Este filme foi baseado no livro de um autor britânico, C. S. Lewis, que foi um dos grandes apologistas e defensores do cristianismo, na segunda metade do século XX. Escreveu vários livros sobre a defesa da fé cristã, e neste livro, usando várias metáforas procura apresentar o poder do Bem sobre qualquer adversidade.
Por questões de conveniência legal, casou com uma americana – Joy Davidman -, para evitar que fosse deportada. O inesperado é que Lewis e Joy desenvolveram um profundo sentimento, dando origem a um amor forte entre os dois. Joy tornou-se o grande amor da vida de Lewis, só que esta relação iria ser marcada por um acontecimento trágico: poucos anos após o casamento, Joy, já doente, viria a travar uma luta contra o cancro e acabou por morrer em pouco tempo.
Em 1940, Lewis escreve um livro sobre o tema do sofrimento – “O problema do sofrimento”, mas quando “experimentou” a perda da sua esposa questionou, profundamente, a sua fé e a ideia de um Deus amoroso e misericordioso. Neste contexto, escreveu uma espécie de diário autobiográfico – A Grief Observed -, onde enfrenta a Deus “face a face”, incapaz de encontrar justificativas ao sofrimento da esposa, prolongado em si próprio, pela separação decisiva na morte.
Sem abandonar a sua fé, questionou profundamente o seu Fundamento, chegando a apelidar a Deus de ‘vivisseccionista cósmico’.
Assinala que uma coisa é ter um contato com a dor, enquanto ‘telespectador’, outra coisa é experimentá-la na separação radical e vazia de sentido.
No seu livro – O problema do sofrimento – este grande comunicador e de exímio raciocínio, refere que o sofrimento é uma espécie de ‘megafone de Deus’, que Este usa para falar aos seus filhos. Após a morte da esposa esta reflexão deixa de estar no seu horizonte, ficando apreensivo pelo medo de que a ideia que possa criar sobre o Deus ‘vivisseccionista’, possa aninhar-se na sua mente. A revolta e o lamento não são um caminho para o ateísmo, pois já os salmos bíblicos utilizam este estilo, assente numa intimidade com Deus.
Este pensamento mostra bem uma certa desilusão sobre Deus, ou melhor, sobre a impossibilidade de O compreender: “Quanto mais acreditamos que Deus fere apenas para curar, menos nos é dado crer que haja alguma utilidade em suplicar por ternura.”
No seguimento dos dias, Lewis acaba por ir percebendo e tomando consciência da sua própria realidade, não recorrendo a Deus, como ‘bode expiatório’, mas compreendendo, gradualmente, a sua dor, a sua fé e a sua vida como ‘um castelo de cartas’, por isso, afirmou: “Deus, certamente, não estava a fazer uma experiência com a minha fé nem com o meu amor para provar a sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não.” Assim, compreende que o sofrimento não surge como forma de prova, mas de consciencialização.
Vale a pena ler este pequeno livro!