Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Observatório Pastoral

Os pronunciamentos magisteriais ou ocasionais do Papa Francisco são, habitualmente, objeto de comentário, por vezes até de discussão e crítica, dentro e fora do âmbito eclesial. Todavia, há poucos meses, 29 de Junho, foi publicada uma pequena, mas substanciosa Carta Apostólica, Desiderio Desideravi – Desejei Ardentemente – cujo título provém de Lc 22,15: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco, antes de padecer”, versando um assunto nuclear que subtitula o documento: Sobre a Formação Litúrgica do Povo de Deus, cujo impacto foi quase nulo. E é pena, visto que seria uma oportunidade de aclarar e serenar uma polémica que, há anos, agita alguns grupos no seio da Igreja, relacionada precisamente com a Liturgia. É o próprio Papa quem afirma: “Seria banal ler as tensões acerca da celebração, infelizmente presentes, como se de uma simples divergência se tratasse entre sensibilidades diversas em relação a uma forma ritual. A problemática é, antes de mais, eclesiológica” (Dd 31) por isso “Abandonemos as polémicas…continuemos a maravilhar-nos com a beleza da Liturgia” (Dd 65).

Francisco tem um objetivo: “Com este escrito não pretendo tratar a questão de modo exaustivo. Quero, simplesmente, oferecer alguns pontos de reflexão para contemplar a beleza e a verdade do celebrar cristão” (Dd 1). Tais pontos não são sequer novidade, pois sustentam os princípios basilares da reforma litúrgica conciliar, plasmada nos documentos e livros litúrgicos oficiais. Desses tópicos, destacam-se: 1.A Liturgia: o “hoje” da história da salvação; 2. A Liturgia: lugar de encontro com Cristo; 3. A Igreja: sacramento de Cristo; 4. O sentido teológico da Liturgia; 5. A Liturgia: antídoto contra a mundanidade espiritual; 6. Redescobrir em cada dia a beleza da verdade da celebração cristã; 7. O assombramento pelo mistério pascal: parte essencial do acto litúrgico; 8. A necessidade de uma séria e vital formação litúrgica; 9. A ars celebrandi (a arte de celebrar retamente).

O intuito do Papa é desenvolvido no capítulo 9, em 21 dos 65 números. Visto que “a questão fundamental é: como recuperar a capacidade de viver em plenitude a ação litúrgica?” (Dd 27), propõe-se: “precisamos de uma séria e vital formação litúrgica” (Dd 31).

Ao afirmar a importância fundamental da formação litúrgica, a Dd não alude somente, nem sobretudo, à formação escolar, académica e técnica, ministrada aos sacerdotes e outros ministros da celebração, mas a que deve chegar a todos os batizados, participantes nas assembleias celebrantes. É sugestiva, nesse sentido, a intuição apresentada, para garantir uma adequada educação litúrgica: “Penso que podemos distinguir dois aspetos: a formação para a Liturgia e a formação pela Liturgia. O primeiro está em função do segundo, que é essencial” (Dd 34), pois “o conhecimento que vem do estudo é só o primeiro passo para poder entrar no mistério celebrado” (Dd 36). A formação litúrgica não tem como objetivo principal habilitar para a execução simplesmente rubrical, nem mera finalidade didática, apesar do seu grande valor pedagógico, mas, por ela, capacitar o louvor, a vida cristã, a interceção, a ação de graças. (cf. Dd 41).

Uma proposta para o Natal: ler, saborear a pequena, mas substantiva, Carta Desiderio Desideravi.

 

P. José Henrique Santos
CategoryDiocese, Pastoral

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