Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O caminho para a Páscoa inicia com a Liturgia de Quarta-Feira de Cinzas e um convite do Papa para subirmos ao Monte Tabor e aí vivermos e saborearmos a beleza de Jesus na sua Transfiguração.

O Papa Francisco propõe o Evangelho da Transfiguração, proclamado em cada ano no II Domingo da Quaresma, para iluminar o nosso caminho Quaresmal, nos inspirar no processo de conversão pessoal, na busca do arrependimento dos nossos desregramentos e pecados, para chegarmos à Páscoa e celebrarmos, com alegria e autenticidade, a vida nova que nos é oferecida no mistério da morte e ressurreição de Cristo.

Que ninguém fique de fora deste caminho quaresmal de conversão, que hoje iniciamos na celebração de Quarta-feira de Cinzas como dia de jejum, de penitência e de oração.

A Palavra de Deus, que acabámos de escutar, convida-nos a interiorizar as palavras de São Paulo na Carta aos Coríntios, que, em nome de Cristo, nos pede o seguinte: “Reconciliai-vos com Deus. Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação” (cf. 2 Cor 5, 20-6, 2).

Este apelo é para todos nós e para ser vivido ao longo do tempo da Quaresma, de modo a inserir-nos verdadeiramente no projeto salvífico de Deus, revelado em Jesus Cristo. Como embaixadores de Cristo e colaboradores de Deus, acompanhemos espiritualmente a Cristo neste caminho, que Ele fez quando subiu a Jerusalém para aí sofrer, morrer, ressuscitar e dar a vida pela salvação da humanidade. Cristo, que não conheceu o pecado, identificou-O Deus com o pecado por amor de nós, para que em Cristo nos tornássemos justiça e perdão de Deus.

A este propósito, o Papa Francisco afirma que é preciso subir ao Monte Tabor, como fizeram Pedro, Tiago e João, para nos deixarmos transfigurar no alto monte pela glória e luz do Senhor. “A ascese quaresmal é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz. Aquilo precisamente de que Pedro e os outros discípulos tinham necessidade. Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, para compreender e acolher profundamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si mesmo por amor, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, que nos comprometemos, como Igreja a realizar” (Mensagem Quaresmal 2023).

A “ascese quaresmal e a experiência sinodal”, de que fala o Papa Francisco, encontram na leitura do Profeta Joel um sinal forte e um convite atual dirigido a cada um nós. “Convertei-vos a mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações (…), rasgai os vossos corações. Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso, pronto a desistir dos castigos que promete” (cf. Joel 2, 12-13).

Neste tempo favorável da graça e da salvação, estamos todos chamados à conversão através do Sacramento da Reconciliação e de outras formas de penitência, que nos alcancem o perdão dos pecados. A “penitência” significa também o dom do arrependimento, condição para receber a graça e o perdão dos pecados e, saborear a beleza infinita da misericórdia do Senhor.  A misericórdia de Deus é infinitamente maior do que qualquer pecado. O profeta convida os sacerdotes e o povo a reunir-se em assembleia, juntando os anciãos, as crianças, os jovens, as esposas, os esposos, para oferecerem os seus sacrifícios a Deus.

O Evangelho de São Mateus mostra Jesus a falar com clareza aos seus discípulos sobre o modo como devem viver o caminho penitencial, dizendo-lhes: “Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles”. O bem também tem um modo próprio para ser feito e chegar ao coração dos irmãos. Não precisa de ser anunciado, deve ser um impulso do coração.

“Quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti”. É importante a discrição, o silêncio e a delicadeza no modo como fazer crescer o bem ao próximo. Não devemos fazer barulho na prática da caridade e das boas obras.

“Quando rezardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de orar de pé”. Entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu pai em segredo. Confia ao Senhor a tua vida, e a tua oração transformará o teu coração.

A Quaresma é um tempo de graça e de conversão na medida em que nos pusermos à escuta de Deus, que nos fala. E como nos fala Ele? Antes de mais nada, na Palavra de Deus, na oração, nos acontecimentos e através da vida dos irmãos que nos pedem ajuda.

“Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio, como os hipócritas, mas perfumai a cabeça e lavai o rosto. O teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa”. Valorizemos todos os meios ao nosso alcance no caminho da Quaresma, para que, pela oração, o jejum e a penitência, cheguemos renovados às festas pascais.

O rito da bênção e imposição das cinzas, que vamos viver dentro de momentos, são um convite a renovar a nossa vida de miséria e pecado diante de Deus. Ramos verdes benzidos no Domingo de Ramos, secaram, foram queimados e agora deram origem às cinzas, que, depois de benzidas, serão colocadas na nossa cabeça, em sinal de penitência e de conversão, lembrando-nos a nossa fragilidade, fraqueza, finitude, miséria e pecado. É preciso renascer do pó das cinzas do pecado, para, com ajuda de Deus, nascer para a vida nova da graça.

A Diocese de Viseu destina a Renúncia Quaresmal deste ano de 2023 para ajudar o povo martirizado da Turquia e da Síria, vítimas de tão violentos sismos que causaram tantos mortos, desalojados e destruíram tantos bens. Rezemos nesta Quaresma pelas vítimas da guerra, dos terramotos, da fome, da violência, da pobreza, da doença, das vulnerabilidades e da solidão.

O Papa Francisco diz-nos que o “caminho ascético quaresmal e, de modo semelhante, o sinodal, têm como meta uma transfiguração pessoal e eclesial. Uma transformação que, em ambos os casos, encontra o seu modelo na de Jesus e realiza-se pela graça do seu mistério pascal”. Tal transfiguração, diz o Santo Padre, deve ter duas veredas para chegar à meta: Atenção à voz que veio da nuvem pedido para escutar Jesus. E no caminho sinodal a escuta de Cristo leva-nos a escutar os irmãos e a caminhar juntos com eles.

Convido os cristãos a acompanhar os jovens no caminho para a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, de 1 a 6 de agosto de 2023. Façamos juntos com os jovens esta caminhada Quaresmal na oração, jejum e penitência, verdadeira peregrinação Pascal, que, pela Cruz, nos leva ao encontro de Cristo Ressuscitado. Vivamos o nosso lema diocesano: “Animados pelo Espírito Santo, com os jovens a caminho”, fortalecidos com a fé de Maria, levantemo-nos apressadamente para servir na alegria os irmãos.

Rezemos ao longo desta Quaresma por todas as pessoas que sofrem, pelos pecadores e por todas as vítimas de abusos sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal. Que neste tempo privilegiado de conversão saibamos pedir perdão às vítimas de todos os abusos sexuais. Condenemos estes crimes hediondos. Cuidemos de todos os que sofrem, as vítimas e os abusadores, através de uma cultura de prevenção, de vigilância e “tolerância zero”.

Queridos irmãos e irmãs, convido-vos a pedir juntos ao Espírito Santo que nos anime nesta Quaresma para subirmos com Jesus ao Monte Tabor, para fazermos com Ele a experiência do seu esplendor divino e, fortalecidos na fé, prosseguirmos o caminho da paz, na esperança pascal. Ámen!

Quarta-feira de Cinzas, 22 de fevereiro de 2023

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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