A Porta das ovelhas é o Bom Pastor
Jesus disse: “Eu sou o Bom Pastor”! Dou a vida pelas minhas ovelhas.
Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. “Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Amados irmãos e irmãs, queridos jovens e seminaristas, sacerdotes, consagrados e leigos, reunimo-nos para celebrar o IV Domingo da Páscoa, o dia do Bom Pastor, o 60º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que foi instituído por São Paulo VI, em 1964, durante o Concílio Vaticano II.
A Mensagem do Papa Francisco para esta Semana das Vocações faz-nos refletir e pensar sobre o tema e convida-nos a rezar sobre a grandeza da vocação: graça e missão.
São João começa o Evangelho de hoje com o capítulo 10, para nos apresentar Jesus a encarnar a alegoria da “porta e do pastor”, sinal da verdadeira entrada no Reino de Deus, “porta” pela qual, pelo Batismo, todos devemos entrar na verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Jesus, que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, é também a “Porta” por onde entra e sai o rebanho, é o Bom Pastor, que hoje chama o Alexandre Ribeiro e o Tiago Rio e os faz entrar no dinamismo da vocação para receberem o ministério de Leitor, em caminhada para o sacerdócio ministerial.
“Filhos Caríssimos:
Deus Pai revelou e realizou o mistério da salvação por meio do seu filho Jesus Cristo, feito homem, o Qual, depois de nos ter revelado todas as coisas, confiou à sua Igreja a missão de anunciar o Evangelho a todos os povos.
Como Leitores que proclamam a Palavra de Deus, ides prestar uma grande ajuda nesta missão. Para isso recebereis no Povo de Deus um ofício particular, e sereis designados para servir a fé, que tem a sua raiz na Palavra de Deus. Haveis de ler a Palavra de Deus na assembleia litúrgica, educareis na fé as crianças e os adultos, prepará-los-eis para receberem dignamente os Sacramentos, e anunciareis a Boa Nova da salvação aos homens que ainda a não conhecem” (Ritual da Instituição dos Leitores).
Caríssimos Irmãos, como estes jovens seminaristas, somos todos convidados a alimentar a nossa vida espiritual com a Palavra de Deus, que é viva e eficaz, penetra o nosso ser até às medulas e as suas Palavras são mais doces que o mel.
A Palavra de Deus convida-nos hoje a centrar a nossa vida e atenção na porta do redil, por onde entra e sai o rebanho do Senhor. Esta “porta” é Cristo, o Bom Pastor, uma porta sempre aberta. Só Ele é a porta que se abriu para entrarmos na intimidade e comunhão com Deus, vivendo a experiência de sermos a Igreja, o verdadeiro rebanho do Senhor, que Ele preserva das ameaças do inimigo, guardando-o no seu redil com segurança. Só Jesus guarda verdadeiramente o seu rebanho, cuida dele, alimenta-o e leva-o a pastagens verdejantes. Guarda-o e, vigiando, faz com que descanse em prados verdejantes. Com Jesus, todas as portas se abrem. Longe de Jesus, tudo se fecha e perde o sentido da verdadeira liberdade e da esperança. Só Jesus é a sentinela que guarda o rebanho reunido no redil, para que descanse e se sinta defendido dos que se aproximam dele como ladrões e salteadores. “Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas” (Jo 10, 2). O Bom Pastor cuida do seu rebanho com a totalidade do Seu ser, ama com delicadeza o rebanho, presta atenção e zelo pastoral a todos.
O Filho, que o Pai enviou ao mundo, deu-nos a vida em abundância, amou-nos até ao fim e morreu na Cruz para nos salvar. No dom do mistério pascal, Cristo, o Crucificado, Ressuscitado, pode dizer a cada um de nós: “Eu sou o Bom pastor, conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me”, ouvem a minha voz e conhecem-na. O Evangelho de hoje é um dos textos que nos transmite uma mensagem entendida numa linguagem universal, que se refere à nobre missão do Bom Pastor.
O Bom Pastor é a Porta verdadeira por onde entram e saem as ovelhas do redil, o lugar onde se reúne o rebanho. O Bom Pastor veio para abrir o coração dos fiéis e oferecer-lhes um horizonte de vida e de esperança. Jesus é a verdadeira “Porta”, que se abre para todos os que procuram a salvação. Ele é a “Porta” verdadeira e única. Ele entra por ela e deixa-a aberta para todos aqueles que desejarem segui-Lo poderem entrar.
Para conduzir o rebanho a pastagens verdejantes, “depois de ter feito sair todas as ovelhas que lhe pertencem, caminha à sua frente, e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz”. Uma característica do Bom Pastor é de caminhar com as ovelhas à frente, no meio e atrás, porque as suas ovelhas conhecem-No, seguem-No e escutam a sua voz. Uma das figuras da Igreja é a do rebanho conduzido pelo Bom Pastor, que procura o redil para aí descansar e estar livre do perigo dos ladrões e salteadores.
Temos diante de nós a imagem do Bom Pastor, que carrega aos ombros a ovelha mais necessitada do seu rebanho. Porventura, a que está doente, fragilizada, sem força ou mesmo cansada da jornada, é a ovelha que, para o Pastor, precisa mais da sua atenção, do seu carinho, da sua ajuda, do seu cuidado. A característica mais visível na vida do pastor é o cuidado pelas ovelhas cansadas e doentes.
O verdadeiro Pastor é Jesus, aquele que nos diz: “Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”. Vinde a mim todos aqueles que vos sentis desprezados e abandonados; eu cuidarei de vós; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tem estima por todos, principalmente por aqueles que se sentem sozinhos, abandonados, esquecidos e mergulhados numa vida de solidão.
Ao contemplarmos esta imagem rica de significado, não podemos esquecer que Jesus é o Senhor Crucificado, Ressuscitado, o Bom Pastor, a verdadeira razão de ser da Igreja, da nossa vida, da nossa vocação e da nossa missão de discípulos missionários. A imagem do Bom Pastor toca com profundidade interior a nossa vida, porque a sua bondade, o seu amor, a sua ternura, a sua mansidão e o seu cuidado pelo rebanho, mostram a sua capacidade de acolher, proteger e conduzir o seu rebanho ao redil. O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Precisamos de acreditar nestas palavras e confiar em tudo aquilo que Jesus é capaz de fazer por cada um de nós. Mas quem é o bom Pastor? Quem é o Bom Pastor para mim? O salmista responde: “O Senhor é meu pastor: nada me falta. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não terei nenhum mal, porque Vós estais comigo. A bondade e a graça hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida. Ele nunca me abandona”. “Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo (…). Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância” (cf. Jo 10,1-10)
Caros irmãos e irmãs, celebramos o Domingo do Bom Pastor, no encerramento da Semana de Oração pelas Vocações. É neste contexto que acolhemos estes dois jovens seminaristas, que vão dar mais um passo em direção ao sacerdócio ministerial, um momento de grande dimensão vocacional para as suas vidas, um dom inestimável para a nossa querida Igreja de Viseu. São para nós um sinal de grande esperança e confiança diante de Deus e dos homens.
Com plena liberdade e em inteira responsabilidade, lembram-nos que Deus nunca se esquece das suas promessas. Prometeu pastores à sua Igreja, que nunca abandona, porque Ele está sempre connosco; olhou para o seu povo e encheu-se de compaixão por cada um de nós. A última ordenação de sacerdotes na Diocese de Viseu foi em 2017. Espero que este dia seja o início de uma nova era e cultura vocacional nas nossas comunidades.
A alegria da fé e o sim destes dois jovens, o Alexandre e o Tiago, que vão dentro de momentos receber o Ministério de Leitor, tornam-se um sinal de esperança pascal, de festa, e um dom muito positivo para a nossa Diocese, porque esperamos que esteja a recomeçar a tradição de viver este dia de festa proximamente, com a sua ordenação de presbíteros.
Deus conhece as nossas necessidades e preocupações pastorais e também escuta o clamor das nossas orações: “Senhor, tu disseste que a Messe é grande e que os trabalhadores são poucos, por isso queremos pedir ao dono da Messe que envie trabalhadores para a sua seara.
Caros seminaristas, a decisão dos vossos companheiros em dar hoje este passo é um apelo e um convite a todos os jovens e adultos para que coloquem com seriedade nas suas vidas o problema da vocação à vida sacerdotal, consagrada ou missionária. Os padres são necessários porque Cristo é necessário. Na sua mensagem, o Papa Francisco fala da vocação como graça e missão. A vocação é sempre o sonho de Deus a nosso respeito. Escolhidos antes da criação do mundo; eu sou uma missão na terra; chamados juntos: convocados; graça e missão: dom e tarefa. A vocação é um dom que deve ser vivido com alegria e disponibilidade (Papa Francisco).
Caros seminaristas, agradeço a Deus os passos que hoje estais a dar. Que sejais exemplo e testemunho para que muitos jovens digam sim a Deus na vocação de consagração. A vocação é uma escolha entre a escolha divina e a liberdade humana. O dom da vocação é como uma semente. Deus chama amando, e nós, agradecidos, respondemos amando.
Agradeço aos vossos pais, às vossas paróquias e à equipa do Seminário todo o empenho que têm colocado na vossa formação para o sacerdócio e todas as orações que têm oferecido por vós.
Agradeço aos vossos párocos e aos vossos professores da UCP pela vossa formação humana, espiritual e académica.
Rezemos pelas famílias para que sejam viveiros de vocações.
A Igreja de Viseu precisa da presença dos consagrados para se rejuvenescer e renovar. Agradeço a todos consagrados presentes na Diocese o seu trabalho pastoral maravilhoso e o seu testemunho pascal, na peregrinação da esperança que são chamados a fazer.
Crescei na maturidade espiritual, na oração, no estudo, no amor a Deus e à Igreja. Confiai a vossa vida e a fidelidade da vossa vocação ao cuidado de Deus, à proteção de Nossa Senhora e à intercessão de São José e de São Teotónio.
A vida consagrada é um dom do Senhor na nossa Diocese. Por isso saibamos ser agradecidos aos Institutos de Vida Consagrada e Seculares pela boa sementeira no campo da nossa Diocese, que esperamos que a seu tempo dê os seus frutos.
Contemplando o Bom Pastor e acolhendo o convite para entrar pela Porta da fé na sua Igreja e cuidarmos com alegria dos irmãos, saibamos responder ao seu chamamento, dizendo: “Eis-me aqui, Senhor; podeis enviar-me”. Ámen!
Viseu, 30 de abril de 2023
+ António Luciano, Bispo de Viseu