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Observatório Pastoral

 

A versão original inglesa do livro – o Peregrino – data de 1678 (John Bunyan 1628-1688). Apesar desta distância temporal, o livro recolhe um conjunto de reflexões de acutilante atualidade. O enredo gira à volta de um homem, que vive atormentado por “um fardo pesado que carrega às costas”. Decide, depois de ler a Bíblia, sair de ‘casa’ e iniciar uma viagem – peregrinação. A figura que o guia é denominada Evangelista. No decurso do caminho, encontra várias personagens, que o aconselham a tomar outros caminhos, atalhos mais rápidos e menos dolorosos. Aconselham-no a “odiar a cruz”, mas, o desafio é de entrar pela ‘porta estreita’ (cf. Lc, 13, 24).

Depois de observar muitas figuras aprisionadas, o Cristão, de seu nome, chega ao momento de contemplar a cruz e o sepulcro do Redentor. Nessa contemplação, desprende-se o peso das suas costas e fica liberto.

Entre as muitas figuras, que atravessam no caminho, o peregrino refere uma, que tem por nome “Vergonha”, que se opõe à religião, considerando-a desperdício de tempo. O peregrino contrapõe que as palavras e as argumentações obscuras humanas pouco ou nada valem perante a luminosidade e o Silêncio da Palavra.

Outra figura curiosa que encontra, o “Tagarela”, que mostra desassombro em falar sobre qualquer assunto, mas bloqueia no fazer – a verdadeira religião, consiste em cuidar da criação de Deus, sobretudo nas suas fragilidades, atalha.

Um episódio grotesco sucede quando Cristão e seu amigo Fiel chegam a um local, onde decorre uma “Feira das Vaidades”. Ao atravessar a Feira são mal recebidos e acabam por ser levados a um juiz chamado “Ódio-ao-bem”. Para consolidar a acusação, chamaram três testemunhas falsas: Superstição, Inveja e Bajulação.

A peregrinação representa a vida humana. É uma paráfrase da condição da humanidade. Sonhado ou real, o itinerário do peregrino é um confronto permanente entre a virtude e o vício, onde ambos se desdobram em figuras sucessivas e encontros fortuitos. A repetição de atos bons acentua uma vida virtuosa, a persistência de atos nefastos conduz a uma vida viciada que, num primeiro momento, pode produzir “sensações agradáveis”, mas acabará por condicionar a felicidade.

No decorrer da ‘peregrinação’, o peregrino encontra uma figura ímpar – o Ateu – que vai no sentido oposto, afirmando que, após longos anos, não encontrou a “cidade”, que o peregrino procura. Este “cruzamento” fez, temporariamente, vacilar o peregrino, mas acabou por prosseguir na viagem.

A peregrinação é, no fundo, uma proposta de viagem ao interior da pessoa, onde se procura abandonar alguns companheiros e conquistar outros, como companhias, rumo ao Bem.

Finalmente, o peregrino chega às portas da “cidade celestial”, mas há um último obstáculo a transpor até às portas da cidade: um enorme rio, profundo e caudaloso. O desalento apodera-se do peregrino: como transpô-lo? Motivado por palavras celestes, empreende a travessia do rio e chega ao pórtico principal para usufruir das belezas da cidade. Por cima, em letras douradas, uma passagem do Apocalipse, que se refere aos que vieram da provação e branquearam as suas vestes no Sangue do Cordeiro (cf. Ap 22, 14).

Depois desta visão, o peregrino percebe e a ganha consciência de que tudo não passa de um sonho. Mas, esse sonho permitiu-lhe reavaliar toda a sua vida e revisar todos os seus comportamentos, desafiando o leitor a fazer o mesmo…

 

Pe. Virgílio Marques
CategoryDiocese, Pastoral

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