Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O Coração Sacerdotal de Jesus

 

  1. O Coração Sacerdotal de Jesus, ícone divino da bondade e da ternura do Pai.

Aprendamos com o Coração de Jesus a dizer: “Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra…” (Mt 11,25), porque revelastes aos pequeninos os mistérios do Reino.

Jesus revela na oração, através de palavras simples, o coração de Deus, cheio de bondade e ternura, que se dá a conhecer aos pequeninos. Ser sacerdote significa ter um coração simples e disponível semelhante ao de Jesus, para oferecer a Deus o sacrifício de louvor e aos fiéis o remédio que brota das Suas palavras: “Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. Somos convidados a unir-nos ao Coração de Jesus, “manso e humilde de coração”, que na cruz Se tornou fonte de vida e de amor para saciar a nossa fome.

O Coração de Jesus revela-nos o amor misericordioso do Pai e entrega-se a cada um de nós como vítima imolada pelos nossos pecados. Convida-nos a matar a sede na fonte do amor divino, saciando a nossa fome com o Seu Corpo e o Seu Sangue presente na Santíssima Eucaristia. O Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, pela ação do Espírito Santo, convida-nos a frequentar a Escola do amor divino e a entrar num caminho de santidade, de justiça e de paz.

O Coração de Jesus é a tenda onde se manifesta a graça, a ternura, a amabilidade, a compaixão e a misericórdia infinita de Deus, oferecida a toda a humanidade no mistério da Encarnação. No coração de Cristo está a beleza da nossa vocação e da nossa vida interior. Contemplando o Seu Coração, aprendamos, na força do amor generoso de Deus, a amar aqueles que ninguém ama.

Unidos assim ao Coração de Jesus, somos “um povo consagrado ao Senhor” (Dt 7, 6), convidados a encontrar a vida nova da Páscoa na Ressurreição de Cristo, a buscar a renovação interior no dom do Espírito Santo, que dá sentido, beleza e frescura à nossa vida e ao nosso ministério. Ser sacerdote segundo a riqueza insondável do Coração de Jesus torna-se um desafio para caminhar para “a santidade de Cristo, único sacerdote do Pai a quem bendiz eternamente para fecundar a nossa humanidade e a nossa doação a Deus e ao seu povo”.

O padre é assim chamado a uma permanente conversão, cuja peregrinação interior o leva a procurar e a buscar a Deus na realização da sua vontade, a viver a vocação de servidor e cuidador do próximo, dando a vida pelo seu rebanho.

  1. O Coração de Jesus, revelação dos mistérios divinos.

A urgência de uma vida interior séria e com profundidade espiritual é a razão essencial para o exercício do ministério sacerdotal num estilo de vida à imagem do bom Pastor. “Conhece-te a ti mesmo”, máxima da filosofia de Platão, leva-nos a descobrir a especificidade e a identidade do ser, mas também a descobrir a verdade e interioridade da pessoa humana.

É importante na vida do padre interrogar-se: “De que vivemos nós? Para quem vivemos nós”. A tentação de se deixar levar pelo turbilhão do fazer é fácil. A nossa vida espiritual ensina-nos a ser muito mais. A nossa vida espiritual ensina-nos a fazer a aventura interior: procurar Deus e deixar-se encontrar por Ele. Sabemos que os nossos ecrãs, os nossos portáteis e os nossos aparelhos nos informam e nos divertem (ou nos distraem), mas não nos trazem a felicidade. Entrar na dinâmica da vida interior é exigente. É uma provação porque nos tira da nossa zona de conforto. Quando se começa a desembrenhar e a purificar o nosso ser profundo descobrimos por vezes um certo caos interior” (cf. p. 130).

Sim, é no interior que nós não enganamos. É no interior que nós encontramos a verdadeira identidade de ser. Para o padre é urgente, no decurso de uma vida intensa a nível pessoal e pastoral, cultivar a vida interior com verdade, lealdade, transparência e coerência evangélica. Só um ser que tem uma boa qualidade de vida interior poderá irradiar benevolência, amor e paz.

“Uma alteridade relacional feliz tem necessidade de uma porção de solidão serena”. O Espírito Santo tem o poder de dar a plenitude à nossa vida interior. “Se em Igreja o mal de uns a todos prejudica, também o bem e a santificação de uns a todos beneficia. Unamo-nos na oração” (Mensagem para o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, 2023).

  1. A ordenação presbiteral tornou-se a fonte de união sacramental com Cristo.

A Igreja como Mãe comunica a vida nova aos fiéis através dos sacramentos.

O rito da ordenação sacerdotal realiza a nossa união sacramental com Cristo pelo vínculo da imposição das mãos, da consagração e da unção, tornando-se para nós fonte de graça e de comunhão sacramental, que nos identifica ontologicamente e para sempre com Cristo, “alter Christus”.

No decorrer do rito da celebração da ordenação, o bispo pergunta: “Quereis unir-vos cada vez mais a Cristo, sumo sacerdote, que por nós se ofereceu ao Pai como vítima santa e com Ele consagrar-vos a Deus pela salvação dos homens?”

A pergunta começa com três responsabilidades fundamentais do padre: unir, oferecer e consagrar.Unir-se a Cristo, oferecer-se como Cristo, e consagrar-se para a salvação do mundo. Na oração ao Pai, Jesus pediu por nós: ”Consagra-os na Verdade” (Jo 17,17). O Senhor pede-nos, através do sim, uma resposta de adesão para a nossa santificação, a nossa entrega, a nossa consagração na verdade.

A santidade do padre brota do amor do Pai que nos chama, escolhe e consagra. Nesta consagração há um desejo de comunhão profunda com o Senhor. Ser padre é criar uma relação íntima com o Pai para estar unido a Cristo de uma maneira mais radical, autêntica e menos formal. Pela consagração o padre renuncia à sua própria vontade. Coloca-se de joelhos diante do bispo e nas suas mãos faz a promessa de viver com ele e seus sucessores no respeito e na obediência. “Prometes-me a mim e aos meus sucessores, reverência e obediência?” A liberdade do padre ao dar-se abre para uma real mudança. (cf. Homilia do Papa Bento XVI, na Missa Crismal de 9 de abril de 2009).

  1. A santidade de Cristo gera a santidade de vida do presbítero.

O nosso sacerdócio orienta-nos para a santidade, um caminho de docilidade a Jesus e ao Espírito Santo no anúncio do Evangelho. A partir da ordenação, o padre é para Deus e para os outros. O estilo de vida do padre deve ser o de Jesus: sacerdote, mestre e pastor.

A missão do padre é santificar o povo que lhe está confiado. O padre é um homem de Páscoa, tem um olhar voltado para o Reino, pelo qual ele sente que a história humana avança, apesar dos atrasos, das obscuridades e das contradições. Quando a vida do padre é serena, ele comunica o gosto da vida divina aos outros. A santidade é comunicativa do dom e expulsa a banalidade. A imposição das mãos em silêncio orante pelo bispo e presbíteros invoca a descida em plenitude do Espírito Santo.

A vida do padre fica envolvida no mistério da graça, da oração e do silêncio, que o vincula para sempre a Deus para o serviço dos homens e edificação da santa da Igreja.

O bispo impõe as mãos em silêncio, depois todos os padres impõem as mãos. Silêncio, oração, densidade espiritual, transformação interior e comunhão sacramental. Por este gesto sagrado, comunica-se o Espírito Santo ao presbítero. O gesto da imposição das mãos, por sua natureza, cria uma real comunhão entre os padres e com o bispo. Unidos pela fraternidade sacramental em presbitério (Presbyterorum ordinis, nº 8), são chamados a exercer o múnus do bom Pastor.

Por isso, um padre nunca está só, pela ordenação sacerdotal está sempre unido pela força do sacramento e pelo vínculo da comunhão aos outros sacerdotes para crescer com eles na fraternidade sacramental. “O lugar natural para viver a fraternidade sacerdotal é o presbitério” (Papa Francisco). Que dizer daqueles padres que se afastaram e isolaram do presbitério e nunca participam em nada da vida da diocese.

  1. A oração e a unção convidam o presbítero a ser um profeta da esperança e da paz.

A unção das mãos, impele-nos a utilizar as nossas mãos para rezar, abençoar e transformar o mundo em Cristo. Pela unção recebemos a missão de transformar e santificar a matéria criada por Deus. As nossas mãos foram ungidas para comunicar a força de Deus, a alegria e a bondade de Cristo e oferecer na comunhão com o Espírito Santo um sacrifício de louvor a Deus.

Não nos esqueçamos dos nossos deveres como pastores exercendo com alegria e caridade o múnus de ensinar, santificar e governar. Cuidemos de todo o povo de Deus e vivamos com espírito missionário a nossa vocação sacerdotal como discípulos, que deixaram tudo para seguir o Mestre na radicalidade do Evangelho.

Renovai em nós, Senhor, o bem que começou no dia da nossa ordenação sacerdotal, de modo a cumprirmos os deveres e a receber os direitos que a sagrada ordem nos impõe na relação com Deus, com a Igreja, uns com os outros e com as nossas comunidades.

Rezemos uns pelos outros, pelas nossas comunidades, pela Igreja e seus pastores. “Cabe às comunidades cuidar dos seus pastores, mas também cabe aos pastores cuidarmos uns dos outros, por um cuidado que se traduz em oração e animo, que nos vem do aconchego do coração de Jesus e que suporta a nossa ação” (Mensagem para o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, 2023).

Como nos pede São João: “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus; e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus”. Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele.

Jesus Cristo fonte de vida e de amor,  repete hoje de novo a cada um de nós: “Vinde A mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 28-29). Vinde e aprendei na Escola do Coração de Jesus a ser fiéis à vossa vocação e a dar um testemunho de vida credível no exercício do vosso ministério. “Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas”. Olhemos para a messe, cuidemos das nossas comunidades, peguemos com alegria no arado, olhando sempre em frente mergulhados no dom infinito do Coração Sacerdotal de Jesus.

Rezemos pelas melhoras do Santo Padre, pela santificação dos bispos, sacerdotes e diáconos, pelos seminaristas e aumento das vocações sacerdotais.

Confiemos os sacerdotes do nosso presbitério, de modo especial os doentes, os que se sentem sozinhos, abandonados, desanimados e em dificuldade, ao cuidado do Sagrado Coração de Jesus, à proteção materna do Imaculado Coração de Maria e à guarda solícita de São José.

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, 16/06/2023

+ António Luciano, Bispo de Viseu

CategoryBispo

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: