Observatório Pastoral
Aos cristãos de hoje não faltam movimentos (católicos), mas é percetível faltar-lhes (algum) movimento. Talvez por descansarmos demasiado naqueles, propendemos a esquecer-nos deste. Razões?
Desde logo, uma inversão de rumo e um consequente desvio de objetivos. É que os movimentos, que por definição existem para mostrar movimento, acabam, muitas vezes, por obscurecer, retardar e até impedir.
Não há dúvida de que a pertença aos movimentos visa não dificultar, mas, pelo contrário, facilitar a pertença à única Igreja de Jesus Cristo. Na prática, porém, o que se verifica é uma sobreposição de identidades, a ponto de a identidade de base correr o risco de ficar subsumida em muitas identidades específicas.
Note-se que, bem entendidas, estas farão sempre reluzir aquela. Mas é igualmente notório que, com a rotina, o discernimento vê-se afetado e seriamente comprometido. A «capelização» ameaça assim tapar a necessária «eclesialização». Há, de facto, o perigo de pensar mais na «capela» de cada um do que na Igreja de todos.
Haja, com efeito, em vista que, onde quer que estejamos, o que tem de resplandecer é a comum identidade eclesial, que decorre da mesma condição de batizados. Mas será que é sempre isso o que acontece?
Não faz obviamente qualquer mal acolher esta ou aquela proposta, que mais não pretende que chamar a atenção para um determinado aspeto do Evangelho. Uma coisa, no entanto, tem de estar clara no nosso íntimo: se é legítimo ver Cristo a partir dos movimentos, é cada vez mais necessário ver os movimentos a partir de Cristo.
A esta luz, nenhum movimento pode ter a pretensão de ser o melhor – nem, muito menos, o único -, dando a entender que não fazer parte dele é o mesmo que não estar no caminho certo.
Por outro lado, todos os movimentos são convidados a rever os seus métodos e a reformular as suas intuições. Em primeiro lugar, porque a História não para, pelo aquilo que resultou à cinquenta anos não é certo que resulte hoje. Em segundo lugar, porque a mudança (das pessoas e das estruturas) está inscrita no coração do cristianismo, que nasce de um insistente apelo à conversão. E, em terceiro lugar, porque a coerência obrigará sempre a perguntar: que pensar de movimentos sem movimento?
Se quisermos ser eclesialmente probos, reconheçamos que amiúde temos consentimento que certos movimentos se cristalizem e, nessa medida, se formalizem em demasia e burocratizem em excesso.
Talvez não fosse despropositado recolocar a nossa condição de crentes no seguinte princípio: Jesus Cristo, mais do que inspirar movimentos, procurou gerar um grande movimento.
Tendo em conta que a força do cristianismo repousa não tanto no seu presente ou no seu passado como nas suas origens, era bom que voltássemos às fontes e que refizéssemos os nossos caminhos, encarando de frente algumas questões cruciais. Será que os atuais movimentos estão em total sintonia com o espírito do movimento de Jesus? Será que têm as mesmas prioridades? Será que estão dispostos a mudar, a começar de novo ou, se for caso disso, a dar oportunidade a outras vias de seguimento?