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Observatório Pastoral

 

Chegamos a este Sínodo com esperanças contrastantes. Mas isso não deve ser um obstáculo insuperável. Estamos unidos na esperança pela Eucaristia, uma esperança que abraça e transcende tudo aquilo que desejamos.

Todavia há uma outra fonte de tensão. A nossa conceção da Igreja como casa é por vezes contrastante. Cada criatura viva precisa de uma casa para poder prosperar. Sem uma casa, não podemos viver. As diversas culturas têm conceções diferentes do que é a casa. O “Instrumentum Laboris” [Documento de Trabalho para o Sínodo] diz-nos que «a Ásia ofereceu a imagem da pessoa que descalça os sapatos para atravessar a soleira da porta, como sinal de humildade para estar preparada para encontrar o outro e Deus; a Oceânia propôs a imagem do barco; a África insistiu na imagem da Igreja como família de Deus, capaz de oferecer pertença e acolhimento a todos os seus membros, em toda a sua variedade» (B 1,2). Mas todas estas imagens mostram que precisamos de um lugar em que possamos ser aceites e ao mesmo tempo desafiados. A casa é o lugar em que somos conhecidos e amados, onde estamos em segurança, mas é também o lugar em que somos desafiados a empreender a aventura da fé.

Temos de renovar a Igreja entendida como casa comum se queremos falar a um mundo que sofre de uma crise devida à falta de casa. Estamos a consumir a nossa pequena casa planetária. Há mais de 350 milhões de migrantes em movimento, em fuga de guerras e violências. Milhares de pessoas morrem ao atravessar os mares para tentar encontrar uma casa. Também nos países ricos, milhões de pessoas dormem na rua. Os jovens, muitas vezes, não podem permitir-se uma casa. Em todo o lado há uma terrível ausência de casa espiritual. O individualismo impulsionado, a desagregação da família, as desigualdades cada vez mais profundas fazem com que estejamos afligidos por um maremoto de solidões. Os suicídios estão a aumentar porque sem uma casa, física e espiritual, não se pode viver. (…)

O Papa Francisco afirmou: «A Igreja é chamada a ser a casa do Pai, com as portas sempre escancaradas… onde há lugar para todos, para cada um com os seus problemas, para ir ao encontro de quem sente a necessidade de retomar o seu caminho de fé» (Evangelium gaudium, 47).

Deus faz a sua casa em nós: «Se alguém me ama, observará a minha palavra, e o meu Pai amá-lo-á, e nós viremos a ele e habitaremos junto a ele» (14, 23). Mas Jesus promete-nos também a nossa casa em Deus: «Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar?» (14, 2).

Quando pensamos na Igreja como uma casa, alguns de nós pensamos sobretudo em Deus que vem a nossa casa, e outros em nós que vamos para casa em Deus. Ambas as coisas são verdadeiras.

Deus constrói a sua casa em lugares que o mundo despreza. O nosso irmão dominicano Frei Betto descreve como Deus se tornou a sua casa numa prisão no Brasil. Alguns dominicanos foram aprisionados por causa da sua oposição à ditadura (1964-1985) Betto escreve: «O dia de Natal, festa do regresso de Deus a casa, a alegria é incontida. A noite de Natal na prisão… Agora todo o cárcere canta, como se o nosso canto, feliz e livre, tivesse de ressoar em todo o mundo».

Precisamos da Igreja, da nossa casa atual com todas as suas fraquezas, mas também de respirar o oxigénio pleno de Espírito da nossa futura casa sem confins.

 

Timothy Radcliffe, op
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CategoryDiocese, Pastoral

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