Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Ser pobre não é uma maldição! É uma condição, que tem a ver com a distribuição dos bens e com a prática da justiça e da caridade. Jesus proclama uma Bem-Aventurança orientada para o espírito de ser pobre. “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. A Igreja nos seus ensinamentos não se cansa de nos convidar a fazer “uma Opção Preferencial pelos Pobres”.

A pobreza que cresce nos nossos dias é uma realidade vigente de um “status quo”, muito comum a muita gente, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas e ricas.

Muitos têm acesso ao mundo do trabalho qualificado e tecnologicamente falando muito desenvolvido e bem remunerado fruto nas novas ferramentas digitais, mas outros ao contrário e em grande número, vivem na precariedade do trabalho, que ninguém quer e ainda são explorados.

A dignidade da pessoa humana e do próprio trabalho como fonte de rentabilidade e de realização pessoal, nunca pode esquecer o Evangelho de Jesus e o ensinamento atualizado da Doutrina Social da Igreja.

Na atualidade já não basta só falar dos países pobres, ou em vias de desenvolvimento, mas é preciso refletir sobre o fenómeno que origina a pobreza, o número de pobres que aumentou exponencialmente no mundo em pleno século XXI.

Ao olhar para o mundo da pobreza a nível global e mundial, que criou uma escala de verificabilidade da pobreza do ser humano no mundo, que só pode ter uma solução viável com uma onda solidária de partilha de bens por todos.

Devemos ter a consciência cristã, de ajudar todas as pessoas de boa vontade a dar passos para erradicar a fome e a pobreza no mundo através da solidariedade, da partilha, do acolhimento e da fraternidade e solidariedade social. O fenómeno da pobreza causado por tantos cenários de guerra, que matam, destroem os bens e a riqueza das pessoas, o aumento dos emigrantes de vários pontos do mundo à procura de melhores condições de vida e os refugiados à procura de novos paraísos imaginários nos países desenvolvidos são hoje um tema a ser estudado.

Nestes tempos novos, difíceis, de indiferença, de descristianização e ignorância concreta da pobreza, recordo com preocupação as palavras de Jesus: “Pobres sempre os tereis convosco, mas a Mim, nem sempre me tereis”.

Esta frase mexe sempre muito comigo e com muitos e leva-nos por isso à prática do Mandamento Novo do Amor, expressa nos ensinamentos o Evangelho das “Bem Aventuranças”, e das “Obras de Misericórdia”: “O que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos é a mim o fizestes”, disse Jesus.

O problema da pobreza no mundo é muito antigo, embora nas sociedades mais desenvolvidas e tecnologicamente avançadas, tomaram uma filosofia de trabalho qualificado, que pôs em risco o aumento do número de pobres nunca esperado, devido às exigências qualitativas para acesso ao mundo do trabalho.

Muitas pessoas que vivia bem, muitas famílias que tinham equilíbrio financeiro, económico e social, vêm-se hoje envolvidas em situação de necessidade, endividas, em pobreza efetiva, extrema e real.

A este respeito, vem muito a propósito o tema que o Papa Francisco escolheu para a sua Mensagem do VII Dia Mundial dos Pobres, que vamos celebrar no próximo Domingo: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7).

As consequências da vida assumida em várias vertentes, principalmente no mundo atual por falta de trabalho, de competências, de apoios sociais, de casa própria, de rendas insuportáveis, baixos salários, compromissos   assumidos anteriormente, os efeitos das guerras, a violência, a avareza e a inveja de muitos podem colocar muita gente nos nossos dias no limiar da pobreza e perante o desespero da própria vida.

Nunca como hoje a Pastoral Social através da Cáritas, Conferências Vicentinas, da Cruz Vermelha, das Instituições Particulares de Solidariedade Social, das Misericórdias, de serviços paroquiais e outras Instituições Sociais existentes e organizadas em cada paróquia e na sociedade civil são importantes para acolher, escutar e ajudar as necessidades dos pobres. Santo Agostinho já dizia, que “cada comunidade devia cuidar dos seus pobres”.

O desafio continua hoje quer através do Serviço da Segurança Social e outras respostas do Governo. Vejamos os desafios que o Papa Francisco na sua Mensagem:

“O Dia Mundial dos Pobres, sinal fecundo da misericórdia do Pai, vêm pela “sétima vez alentar o caminho das nossas comunidades. Trata-se de uma ocorrência que se está a radicar progressivamente na pastoral da Igreja, fazendo-a descobrir cada vez mais o conteúdo central do Evangelho.: e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte. Por isso, no domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, reunimo-nos ao redor da sua Mesa para voltar a receber d`Ele o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres” (Francisco, Mensagem nº 1).

Empenhamo-nos todos, cristãos e pessoas de boa vontade, todos os dias no acolhimento dos pobres, mas não basta a solidariedade simples, pois a pobreza permeia as nossas cidades, vilas e aldeias como um rio que engrossa sempre mais até extravasar para as margens do descarte.

Numa sociedade civilizada como a nossa, há sempre gente que vive muito bem, em grandes mansões, mas não podemos ignorar outros, que continuam a viver num bairro social, ou sem abrigo em tendas, ou debaixo da ponte ou do viaduto.

O Papa Francisco ao partir da história bíblica da família de Tobit, marido e pai honeste e ornado de virtudes dá-nos a grande lição para cuidar dos pobres sem nos afastarmos deles, ou os abandonarmos, mas como cristãos cuidarmos dos pobres com os olhos na pessoa de Jesus que nos há de inspirar a construir uma verdadeira pastoral social nas nossas paróquias e comunidades praticando a caridade.

A Mensagem do Papa: “Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (Tb 4, 7).

Nunca nos esqueçamos que o verdadeiro tesouro da Igreja são os pobres, por isso acolhamos com espírito solidário e fraterno as suas vidas, na certeza de quem dá aos pobres, empresta a Deus. Como dizia são Vicente de Paulo, a caridade deve ser a única dama da nossa vida.

 

† António Luciano, Bispo de Viseu

 

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