Observatório pastoral
A conversa com o meu amigo padre do Luxemburgo durou menos de meia hora, mas deu-me que pensar durante vários dias. Disse-me, com preocupação e talvez algum alívio, que o plano no seu pequeno país é de passar das cerca de duzentas paróquias que agora existem a trinte apenas.
Impossível mandar para a frente duas centenas de paróquias com tão poucos sacerdotes em serviço ativo. Os poucos padres disponíveis correm continuamente de uma paróquia para a outra – cada um deles está encarregado de pelo menos quatro ou cinco – com tempo e forças que mal chegam para as celebrações da missa, casamentos… e reuniões de administração de todas as estruturas em que têm de estar presentes.
A ideia de um padre que se dedica aos seus fiéis com serenidade a fazer crescer a fé e a vida cristã em todas as suas expressões concretas pertence a um passado sempre mais distante. Numa situação assim, é normal que alguns padres entrem em círculos viciosos de cansaço, que gera mais e mais cansaço; pessoas sempre a tentar sobreviver por entre um número infinito de compromissos. Há quem consiga manter o rumo e o ritmo certo na própria vida, mas há também quem estoire, e quem se defenda reduzindo-se a um funcionário religioso que faz o mínimo obrigatório.
Era, talvez, a memória de coisas deste género que levava o meu amigo a falar desta mudança com um certo alívio.
Eu fiquei a pensar no que tal mudança pode trazer à vida das comunidades cristãs. Não faltarão os pessimistas, profetas da desgraça, que veem em tudo isto a derrota e quase o fim do Cristianismo. Mas haverá também, tenho a certeza, os profetas da luz e da esperança, que olham para a situação com o olhar de Deus que sabe fazer nascer vida nova para os seus filhos em qualquer situação que seja.
Os padres terão a ocasião de se descobrirem com um ministério, um serviço importante, no meio de muitos outros serviços que antes eram deles, mas que agora terão de ser feitos por outros cristãos. Muitos consagrados, irmãs e irmãos, podem redescobri a alegria de se dedicarem ao serviço pastoral do povo de Deus. Muitos leigos e leigas poderão tornar-se muito mais ativos e assumir mais responsabilidade na vida das comunidades cristãs a que pertencem.
Uma situação de «crise» como esta, se enfrentada com verdadeira esperança cristã, pode ser a ocasião para um salto em frente na qualidade da vida das nossas comunidades cristãs. Seria uma pena que o pessimismo e a tristeza de alguns nos roubasse a alegria de acolher e assumir as possibilidades de vida nova que se nos oferecem nesta situação concreta.
De algum modo, o desafio da mudança apresenta-se a todos nós. Podemos sempre olhar as novas situações com olhos de esperança e descobrir os caminhos novos que Deus nos aponta.
Para Deus não há situações impossíveis. Há só novas oportunidades para fazer crescer o seu Reino neste nosso mundo concreto.
Pe. Fernando Domingues , Sacerdote Comboniano