A Diocese de Viseu em conjunto com as restantes Dioceses do Centro de Portugal – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima e Portalegre-Castelo Branco- organizaram as Jornadas de Formação do Clero, no Centro Pastoral Paulo VI, do Santuário de Fátima.
Conferências, mesas redondas, ateliês temáticos e concertos marcaram esta primeira edição das Jornadas de Formação do Clero, organizadas pelas dioceses do Centro de Portugal. O balanço dos três dias de trabalho, concluídos no dia 1 deste mês, é muito positivo, não só pela diversidade da programação, como pela grande adesão dos participantes, já que dos 258 inscritos, 50 representaram a Diocese de Viseu, num evento que reuniu os bispos das seis dioceses, os padres, diáconos e alguns seminaristas que estão atualmente em estágio nas paróquias.
Para o Bispo de Viseu, D. António Luciano, coordenador da organização das jornadas e das iniciativas conjuntas das dioceses do Centro, foram dias profícuos de trabalho, importantes para a concretização do trabalho sinodal nos presbitérios e na Igreja. “O encontro foi muito positivo, desde toda a temática, todos os conjuntos de mesas redondas e ateliês que foram uma grande novidade pelo impacto que tivemos de participantes, mais de 250, mas também por este trabalho e sentir em conjunto que todos queremos encontrar os melhores caminhos para servirmos o povo de Deus. Agora depende de cada um pôr em prática nas suas paróquias o desafio do tema ‘Evangelização e Comunidades’”, disse.
Estas jornadas ofereceram um conjunto de orientações, com o objetivo de darem ferramentas qualificadas aos participantes para que possam responder aos novos desafios e problemas pastorais que, hoje, se colocam às comunidades. “Nestas jornadas fomos desafiados a fazer o caminho de Emaús e sinodal que, ao longo destes dias, pudemos experimentar, viver, celebrar e testemunhar. Esperemos que sejamos capazes de por em prática os desafios que foram lançados aos participantes das dioceses do Centro de Portugal”, explicou o Bispo de Viseu.
Foram vários os oradores nestas jornadas que falaram sobre temas pertinentes para a vida da Igreja. O padre Paolo Asolan abordou “O lugar do Pastor no discernimento das comunidades cristãs”, alertando para uma época “onde emergem gurus, manipuladores, fundamentalistas, ateus intitulados como crentes ou sem uma vida segundo o Espírito, narcisistas necessitados de poder e de centralidade mediática, padres em fuga das paróquias, temas de doutrina social metidos na cave e deixados a apodrecer, a irrelevância da fé na vida quotidiana (cada vez mais entendida como instância moral ou um universo paralelo ao qual se dedicam)”.
Paolo Asolan apelou ao “discernimento comunitário” e propôs uma reflexão sobre os conselhos pastorais, dentro de uma paróquia ou de uma diocese. “Não se trata de convocar assembleias de condóminos, onde as pessoas se digladiam e se decidem coisas práticas e onde o administrador deve conciliar interesses diversos. Nos conselhos pastorais devemos colocar-nos como os discípulos à escuta do Espírito; Ele é o nosso administrador” afirmou.
“Cada decisão pastoral tem de ser discernida e, por isso, quem as toma, ou é chamado a tomá-las, deve colocar-se à escuta” referiu. Mencionou, ainda, especificamente do papel do padre, cuja formação não se esgota no Seminário defendo a necessidade de se formarem equipas pastorais em cada comunidade. “Já não é o padre sozinho que toma as decisões; deve haver uma equipa que gere a parte executiva da pastoral” disse.
Outro dos oradores presentes foi o padre Santiago Guijarro Oporto. Durante o seu discurso, disse que “a Igreja tem de voltar aos espaços da vida quotidiana”, destacando a importância da casa e das famílias para “transmitir o Evangelho”.
“Os cristãos viveram a sua fé e comunicaram nos espaços da vida quotidiana e o mais normal eram as casas, serviam como rede de difusão, as relações sociais estruturavam-se em torno da casa”, explicou o sacerdote espanhol.
O padre Santiago Guijarro Oporto lembrou que “os primeiros cristãos não tinham igrejas”, não existiam espaços propriamente cristãos e isso “é muito importante”, porque no momento atual as comunidades cristãs, as paróquias, “criaram espaços separados da vida ordinária”.
“O que há de mais importante desta experiência é que a Igreja tem de voltar aos espaços da vida quotidiana. Quem sabe, um deles continua a ser a família, na nossa sociedade, na crise das instituições, a família mantém-se”, assinalou o sacerdote da Irmandade dos Padres Operários Diocesanos.
A realização das Jornadas do Clero interdiocesanas foi pensada depois da pandemia, no conjunto do conceito de sinodalidade, com a vontade de “reunir os presbitérios e os bispos para olhar para o mundo de hoje e para as Igrejas particulares”.