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Observatório Pastoral

«Os pobres são uma multidão. E ao pensar nesta imensa multidão de pobres, a mensagem do Evangelho é clara: não enterremos os bens do Senhor. Coloquemos a caridade em círculo, partilhemos o nosso pão, multipliquemos o amor. A pobreza é um escândalo. Quando o Senhor voltar, pedir-nos-á contas.» São algumas das palavras pronunciadas pelo Papa Francisco perante milhares de pessoas sem-teto, migrantes, idosos e pessoas com deficiência que, juntamente com os voluntários que estão ao seu lado todos os dias, enchiam a basílica de S. Pedro. (…)

Na sua mensagem, o papa convidou a «não desviar o olhar do pobre», retomando as palavras do Livro de Tobias, «texto pouco conhecido do Antigo Testamento, convincente e rico de sabedoria». A mesma sabedoria expressa na pergunta que o papa colocou ao comentar a parábola dos talentos: «Eu arrisco, na minha vida? Arrisco com a força da minha fé? Eu, como cristã, como cristão, sei arriscar ou fecho-me em mim mesmo por medo ou pusilanimidade?».

Para o papa, o amor pelos pobres é decisivo. Escolheu o nome Francisco e dedicou muitas energias a realizar o seu sonho de uma «Igreja pobre e para os pobres». Situa-se em continuidade com vinte séculos de história cristã, através do fio condutor que liga a Igreja aos pobres. De facto, quando os cristãos desviaram o olhar deles, também se distanciaram do Evangelho. Ao contrário, nos momentos de “re-forma” (ou seja, quando regressaram à fonte do Evangelho para retomar a “forma” da comunidade apostólica), houve sempre uma vivaz redescoberta dos pobres, de Francisco a Domingos no século XIII, até Filipe Néri e Inácio de Loiola no século XVI.

A propósito, o cardeal Yves Congar, um dos protagonistas do concílio Vaticano II, observava com acuidade: «Os pobres são coisa da Igreja. Não são apenas sua clientela ou beneficiários das suas substâncias: a Igreja não vive plenamente o seu mistério se dela os pobres estão ausentes. Não pode existir comunidade cristã sem diaconia, isto é, serviço de caridade, que por sua vez não pode existir sem celebração da Eucaristia. As três realidades estão ligadas entre elas: comunidade, Eucaristia, diaconia dos pobres».

Não se trata apenas de assistir os pobres, mas considerá-los como irmãos mais pequenos de Jesus e, portanto, membros efetivos da Igreja.

Olivier Clément, arguto teólogo ortodoxo francês, observava a necessidade de unir a oração e o amor pelos pobres, ao retomar as conhecidas expressões de S. João Crisóstomo sobre os dois sacramentos «do altar e do irmão», sobre os quais se funda a vida cristã. «São absolutamente inseparáveis: ambos representam uma grande lição para a humanidade de hoje, tentada a viver um cristianismo algo esquizofrénico, com muitas coisas místicas, mas que não mudam a vida», escrevia Clément em 2003.

Nestes anos, graças à pregação do Papa Francisco, à instituição do Dia Mundial dos Pobres compreendeu-se melhor como o amor pelos pobres é bem mais do que uma atividade que compete a algumas instituições eclesiásticas ou a alguns “especialistas”, mas uma parte relevante da vocação cristã de todos os batizados, porque todos são responsáveis pelo ministério da misericórdia. (…)

Massimiliano Signifredi, In L’Osservatore Romano

CategoryIgreja, Papa

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