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Observatório Pastoral 

Manhã de Páscoa. Ressoam como se fossem o refrão de um salmo os versos de Sophia inspirados no Duque de Gandia (S. Francisco de Borja):

“Nunca mais amarei quem não possa viver

Sempre, (…)

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.”

Há tantas coisas que morrem e que amamos como se fossem eternas: poderes e prestígios que passam, riquezas sem celeiros que as guardem no céu.

Os passos da vida de Jesus culminam na cruz, denunciando a precaridade de todas essas coisas às quais confiamos, demasiadas vezes, a nossa felicidade. Mas aquilo que nos consome e atormenta, aquilo que nos rouba o ânimo, que nos faz correr atrás de fontes ilusórias que não saciam a sede mais profunda de sentido, não pode trazer-nos felicidade.

Jesus não se ressuscitou a si mesmo. Foi o Pai que o ressuscitou e essa foi a Sua resposta à fidelidade do Filho que levou o Amor até ao fim. Aprendemos assim na Páscoa que a felicidade é o fruto da fidelidade. Não a recebemos por decreto, não a podemos exigir como se fosse uma vassalagem que o mundo nos deve. É o fruto de um amor gratuito livremente assumido sem medo das consequências.

A felicidade pede paciência

Na manhã de Páscoa os discípulos estavam confusos. Os apóstolos demoraram a acreditar, desconfiaram das mulheres classificando as suas palavras como um “desvario” (Lc 24, 11). Tomé desconfiou da comunidade (cf. Jo 20, 25). Não somos mais, nem menos do que todos eles. Precisamos de tempo. E, no modo como celebramos a Páscoa, podemos ter por vezes a tentação de um salto apressado passando da contemplação da dor a uma euforia que ignora o tempo da espera, a lentidão necessária para que o olhar possa reparar nos frutos que nascem das feridas da entrega e do amor. A felicidade pede lentidão, atenção e paciência.

A felicidade não apaga a dor

Fazemos da alegria e da tristeza, da felicidade e a dor opostos irreconciliáveis. Jesus ressuscitado mostra as marcas da cruz, os sinais da vida oferecida gratuitamente. É desses rasgos que nascem os frutos, a felicidade eterna. A cruz florida que, em algumas zonas do nosso país, visita as casas neste domingo de Páscoa recorda-nos esta verdade da nossa fé. A felicidade não passa por ignorar a dor. A felicidade é o sentido encontrado pelo caminho estreito de um amor que sabe ser o último e o mais pequeno para poder entrar no mais recôndito dos lugares. A felicidade é saber que a vida recebida de Jesus é mais forte do que qualquer dor, mal, pecado ou sofrimento.

A felicidade não é uma experiência privada

Jesus ressuscitado diz a Madalena: “Não me detenhas” (Jo 20, 17). Não quer que as mulheres de quem vai ao encontro no caminho fiquem a conversar com ele, envia-as a anunciar a ressurreição (cf Mt 28, 10). E os discípulos de Emaús, depois de reconhecerem Jesus, já não precisam de O ver, perdem o medo da noite e regressam à comunidade para anunciar a grande alegria (Lc 24, 31-35). Não somos felizes sozinhos. O reino de Deus está no meio de nós e apenas entre nós podemos reconhecer a presença do Ressuscitado. É daí que Ele nos convoca para o serviço gratuito, para O seguir no caminho da entrega que tem a felicidade como fruto.

Na Páscoa somos tocados pelo Amor que não morre. Aprendemos a felicidade como o fruto da fidelidade. Aquele que servimos vive para sempre! A nossa felicidade é eterna.

Aleluia! Santa Páscoa!

Pe. José Maria Brito, S.J – In Pontos SJ

 

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