Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Observatório Pastoral

Há desafios que abrem muitas oportunidades, e são importantes quando olhamos sem pretensão de esgotar o assunto, mas de abrir uma conversa sobre o magistério do Papa Francisco.

Uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, e escutar não é apenas ouvir; escutar é ser capaz de acolher, de praticar uma hospitalidade, de entender a complementaridade que existe entre todos os carismas, entre todos os serviços.

Um outro eixo consiste no desafio a converter o olhar e o método de interpretar a realidade a uma dimensão sistémica da vida. O Papa Francisco pensa as coisas não apenas individualmente, mas é capaz de perceber que tudo está ligado, que há uma interconexão muito grande.

Percebemos isto claramente, por exemplo, na “Laudato si”. Há tempos, o papa fez uma espécie de “making of”, onde contou o que está por trás do processo interior, espiritual, que o levou à redação e publicação desta encíclica sobre o cuidado da casa comum. (…) A palavra-chave é “conexão”. Não podemos servir a pessoa se não atendermos à Criação, se não ouvirmos a voz do sofrimento do planeta. Cuidar da casa comum é condição fundamental para também podermos cuidar da humanidade. Só saberemos o que está a acontecer com a pessoa humana se nos perguntarmos o que é que está a acontecer com a nossa casa comum.

O desafio, que vem desde as primeiras declarações deste pontificado, e que nos abre tantas oportunidades nas nossas realidades eclesiais, é o de implementar uma dinâmica de sinodalidade.

Quando, em 2015, a instituição dos Sínodo dos Bispos fez cinquenta anos, o Papa dizia que o Sínodo era o que o Senhor nos pede para vivermos no terceiro milénio. A grande imagem da Igreja deste milénio é uma igreja sinodal, uma Igreja capaz de caminhar conjuntamente, mas ele afirma imediatamente, com o realismo que dele conhecemos, que não é fácil colocar este dinamismo em prática. Mas não deixa de nos desafiar. E aponta algumas traves-mestras do seu pontificado.

O Papa diz, por exemplo, que uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, e que escutar não é apenas ouvir; escutar é ser capaz de acolher, de praticar uma hospitalidade, de entender a complementaridade que existe entre todos os carismas, entre todos os serviços dentro da Igreja. Ele diz que sem sinodalidade não se entende o próprio ministério hierárquico. Ao citar S. João Crisóstomo, afirma que Igreja e Sínodo são sinónimos.

Esta sinodalidade que a Igreja é chamada a viver, e que tem vivido de tantos modos ao longo do pontificado de Francisco, não é apenas “ad intra”, não é apenas para ouvir a Igreja, os fiéis leigos, para ouvir as diversas realidades que compõem a esfera eclesial; é também uma sinodalidade com o mundo, porque, lembra tantas vezes o Papa Francisco, nós não estamos sós, a Igreja caminha juntamente com os seres humanos, compartilhando as suas dificuldades e esperanças.

Penso que os quatro eixos – quem somos, imagens novas, incisivas, para autorrepresentar a experiência eclesial; a quem falamos, a ousadia de falar a todos, o que em grande medida é, para a Igreja, uma novidade e uma oportunidade; o desafio de interpretar de modo sistémico, em modo interconectado todas as questões; e, por fim, o estilo eclesial é o estilo da sinodalidade – nos ajudam a ler, mapear, cartografar o pontificado do Papa Francisco.

Card. José Tolentino Mendonça, In IMissio.net

CategoryIgreja, Papa

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