
Desde o Pentecostes que a Igreja é Sinodal e desde o Batismo que o cristão está capacitado para viver o “sensus fidei”, que é como que uma intuição para captar “o que é conforme à verdade da revelação” (DF 22). Como sabemos, ao Batismo, liga-se a Confirmação e a Eucaristia como três dimensões da única iniciação cristã.
O nº 24 explica que a própria ação pastoral da Igreja enquanto iniciadora na fé, na medida em que ensina caminhando com todos, escutando cada um e valorizando as suas histórias pessoais pode ser vista como “a primeira forma de sinodalidade”.
É fundamental que a Igreja viva o “mandamento novo”, dispondo-nos todos a uma verdadeira “conversão à sinodalidade: “Perguntemo-nos diante do Senhor se somos capazes de trabalhar juntos ao serviço do Reino de Deus… se, com gestos concretos, temos uma atitude acolhedora em relação àqueles que se aproximam de nós e a quantos se encontram distantes; se fazemos com que as pessoas se sintam parte da comunidade ou se as mantemos à margem” (6-2-2025). A sinodalidade contém o pressuposto da caridade. Não é possível viver a sinodalidade entre pessoas desavindas, rancorosas, ciumentas ou arrogantes. A ágape (amor de doação, que traduzimos habitualmente por caridade) é como que o ambiente normal para quem procura viver a fé cristã. E, sem amor, nada somos (cf. 1 Cor 13, 2).
Em segundo lugar, a sinodalidade pressupõe uma atenção constante à unidade. Depois da base do amor recíproco, importa experimentar que o “todos” deve tender ao um: “Que todos sejam um como Eu e Tu somos um” (cf. Jo 17, 21). Este é o desejo do Senhor, o seu testamento. O diálogo, a partilha, a ajuda aos irmãos hão de criar na comunidade a alegria da unidade, que o Papa Francisco gosta de chamar “harmonia”: “Todos, todos, todos! Ninguém fique de fora, todos. E a palavra chave é esta: a harmonia” (Saudação final, 26 de outubro de 2024).
Depois do reconhecimento do outro, que no pensamento cristão deve significar amor recíproco, depois de uma atitude constante pró harmonia no Espírito, estamos então preparados para subir mais um degrau, o da sinodalidade propriamente dita. “Caminhar juntos, ser sinodal, é esta a vocação da Igreja. Os cristãos são chamados a percorrer o caminho em conjunto, jamais como viajantes solitários. O Espírito Santo impele-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus e dos nossos irmãos, e nunca a fechar-nos em nós mesmos. Caminhar juntos significa ser tecelões de unidade, partindo da nossa dignidade comum de filhos de Deus (cf. Gl 3, 26-28) (Francisco, 6-2-2025, Mensagem para a Quaresma).
Aqui temos, em resumo, as etapas fundamentais a percorrer para a vivência da sinodalidade: sair de si próprio/a para ir ao encontro dos irmãos (amor recíproco) e a vivência da unidade própria da Igreja como Corpo de Cristo. A partir daqui a sinodalidade será feita de escuta, de valorização de todos e das suas capacidades, em ordem ao consenso na decisão pastoral.
J. Cardoso de Almeida