E depois de Vasco Fernandes? Esta pergunta encerra múltiplas respostas que mais do que apenas escutadas, podem ser observadas nos traços firmes do mestre da ‘Escola de Viseu’, Grão Vasco, e de pintores seus contemporâneos que perpetuaram em telas que estão em exposição no Museu Nacional Grão Vasco (MNGV), em Viseu.
‘Além de Grão Vasco. Do Douro ao Mondego: a Pintura entre o Renascimento a Contra-Reforma’ é uma exposição que marca em pleno as comemorações do centenário do Museu, e que foi emblematicamente inaugurada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no passado dia 8 de novembro.
Partindo de Grão Vasco, expoente máximo da pintura renascentista nacional, a exposição, comissariada por Joaquim Caetano e José Alberto Seabra, divide-se em duas partes que se ligam no rasto dos pincéis deixado pelos mestres num período histórico longo e de grandes mudanças, em vários quadrantes da sociedade. Num lado, são visíveis os traços do Renascimento, desde finais do século XIV: a rutura com os cânones feudais, o humanismo, a redescoberta dos clássicos, a cultura e o homem novo num mundo novo. Do outro, o olhar é transportado para o tempo da Contra- Reforma, iniciado com o Concílio de Trento (1545-63), e que levou a uma reformulação de instituições, de mentalidades, de ações.
Na primeira parte, o visitante percorre esse “fenómeno de constante refrescamento das tendências artísticas das escolas existentes na Beira, ao longo das primeiras seis décadas do século XVI, e o cruzamento entre a memória do seu fundador e a adequação dessa memória aos novos tempos e gostos”, como foi descrito pelo MNGV. Em sequência, abre-se a segunda parte da exposição que olha para a “massificação artística decorrente das novas necessidades de propaganda e catequese que se seguiram à renovação da Igreja depois do Concílio de Trento, juntando autores regionais e nacionais responsáveis pela criação artística de uma linguagem pictural e iconográfica clara e eficaz, capaz de responder à nova situação religiosa”. É neste período que a proliferação de obras que surgem vem responder ao que a Igreja Católica pretendia transmitir, pós-concilio de Trento: com a criação de modelos que transmitissem de forma clara a mensagem religiosa. Mais do que evidenciar a grande qualidade das pinturas, a Santa Sé solicitava que as imagens tivessem “clareza narrativa, honestidade doutrinal, decoro e capacidade de persuasão”, como é referido por nota do MNGV.
A excelência que definia os quadros de Grão Vasco dotou à Pintura características próprias que foram continuadas por outros pintores que ao longo dos séculos XV e XVI foram embelezando conventos, sedes de bispados e habitações de nobres com as suas pinturas. A Viseu de Vasco Fernandes foi ponto de paragem demorada de Cristóvão Figueiredo, Garcia Fernandes e Gregório Lopes, três pintores afamados da corte nacional que ali se cruzaram com a obra de um novo pintor, Gaspar Vaz. Os conhecimentos técnicos e estéticos que de todos são recolhidos deram origem à criação da denominada ‘Escola de Viseu’. Uma ‘viagem’ para ver até 5 de março de 2017.
G.I./J.B.:PBA