Colóquio do Papa Francisco com responsáveis mundiais dos Institutos Religiosos.
O Papa Francisco rejeita, em entrevista divulgada hoje na Itália, a corrupção na gestão financeira do Vaticano ou investimentos pouco éticos com dinheiro da Igreja, como na indústria de armamentos.
“É importante verificar como é que os bancos investem o dinheiro. Nunca deve acontecer que haja investimento em armas, por exemplo. Nunca”, pediu, durante uma conversa com mais de 140 responsáveis mundiais de Institutos Religiosos católicos.
O encontro decorreu em novembro de 2016, à porta fechada, e o conteúdo da intervenção do Papa, que respondeu a várias perguntas dos presentes, é divulgado hoje pela revista italiana dos jesuítas, ‘La Civiltà Cattolica’.
“Os problemas chegam quando se mexe nos bolsos! Penso na questão da alienação dos bens: com os bens temos de ser muito delicados”, assinalou Francisco.
“O Senhor quer muito que os religiosos sejam pobres”, acrescentou.
O primeiro Papa jesuíta da história considera que a pobreza é “medular” na vida da Igreja Católica, tendo sempre “consequências fortes” segundo a forma como é observada ou não.
Francisco recorda que nas reuniões de cardeais antes da sua eleição, em 2013, se falava da necessidade de “reformas” e que todos as queriam.
“Há corrupção no Vaticano, mas eu estou em paz”, referiu o Papa, que tem levado a cabo um conjunto de reformas nas áreas financeiras e administrativas da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano, internacionalizando a sua gestão e supervisão.
O encontro com a 88ª assembleia geral dos superiores gerais das ordens e congregações religiosas masculinas evocou a surpresa sentida pelo atual Papa, aquando da sua eleição como sucessor de Bento XVI, e a forma como tem vivido desde então, numa “paz profunda”.
“Não tenho problemas em admitir que estou a viver uma experiência completamente nova para mim. Em Buenos Aires era mais ansioso, confesso, sentia-me mais tenso e preocupado”, declarou.
Francisco pediu aos responsáveis mundiais dos Institutos Religiosos que “nunca” lavem as mãos perante os problemas e que vivam a mensagem do Evangelho “sem calmantes”.
O Papa falou também da importância de práticas penitenciais, como o jejum ou o cilício.
“Se algo te ajuda, faz isso, também o cilício. Mas só se te ajuda a ser mais livre, não se serve para mostrar-te a ti próprio que és forte”, advertiu.
A intervenção deixou votos de que os religiosos testemunhem ao mundo uma “fraternidade mais humilde” e que, no seio da Igreja Católica, se sintam “plenamente” dentro da vida da diocese em que se encontram.
Francisco despediu-se dos superiores gerais com uma mensagem de coragem, antes de os cumprimentar um a um.
“Só quem não faz nada é que nunca erra. Temos de ir em frente! Iremos errar às vezes, sim, mas a misericórdia de Deus está sempre ao nosso lado”, concluiu.
G.I./Ecclesia:OC