Apresentamos uma síntese da homilia que D. António Luciano proferiu nas celebrações de Quinta-feira Santa:
1. Missa Crismal:
(…) Uno-me na alegria da fé e no ideal sacerdotal a todos vós aqui reunidos nesta manhã de Quinta-Feira Santa, na Catedral de Santa Maria de Viseu, Igreja Mãe da nossa Diocese, para a celebração Solene da Missa Crismal. Nesta será Consagrado o Óleo Santo do Crisma, (para ungir, na ordenação, os Bispos, os Sacerdotes e os Diáconos e ungir os Crismados e os Batizados); a Bênção do Óleo dos Enfermos (para ungir, curar, fortalecer e perdoar os pecados dos doentes) e a Bênção do Óleo dos Catecúmenos (para a unção dos que, pela graça do Sacramento do Batismo, se tornam Filhos de Deus e membros da Igreja). Renovaremos também as nossas promessas sacerdotais e celebraremos os Jubileus Sacerdotais dos sacerdotes que celebram os 25 anos e 50 de vida sacerdotal, a quem saúdo fraternalmente e dou os meus parabéns por este serviço de excelência à Igreja e ao Povo de Deus. Parabéns às vossas famílias e comunidades. Que Deus vos recompense com uma vida de santidade e fidelidade. Os sacerdotes são um dom de Deus concedido à Igreja. São João Bosco afirmava que era uma graça concedida a uma família.
Com esta solene Eucaristia, comemoramos também o dia em que Nosso Cristo Jesus comunicou o seu Sacerdócio aos Apóstolos e lhes deu a missão de “Anunciar a Boa-Nova aos pobres, levar a libertação aos cativos e anunciar um ano da graça do Senhor”.
(…) Nós somos também os discípulos missionários, os “amigos prediletos de Jesus” que, com o coração cheio de gratidão e júbilo, renovamos as nossas promessas sacerdotais. Realizadas com alegria e entusiasmo, cheias de beleza espiritual, de generosidade e disponibilidade que marcaram indelevelmente a nossa vida e o dia da nossa Ordenação Sacerdotal.
(…) É preciso “subir mais alto”, isto é, viver em fidelidade o celibato como dom, a pobreza voluntária como ideal, e a obediência que prometemos como dom de fecundidade espiritual, para centrarmos a nossa vida no essencial, dizendo, com coragem, não a um ativismo estéril, que nos leva a corremos o risco de ficarmos prisioneiros do presente, absorvidos pelas tarefas quotidianas, que nos levam a acumular canseiras e frustrações que poderão ser prejudiciais à vida espiritual. Assim, “subir ao alto”, subir mais alto, é ir à fonte da graça santificante e buscar a alegria da vocação, que faz de nós sacerdotes o melhor remédio para curar as tentações do “mundanismo espiritual”, a que estamos sujeitos. Uma vida testemunhada sob aparência de coisas boas, lícitas e até mesmo religiosas, podem afastar-nos de Deus e dos irmãos e levar a nossa vida a pôr a segurança nas coisas do mundo. Se isto acontecer, tornamo-nos mais gestores do material, mesmo em benefício do sagrado do que em administradores das coisas de Deus e servidores generosos da Igreja e do Evangelho.
Não podemos viver o serviço da salvação para com o próximo mergulhados em vidas ambíguas ou, pior ainda, em comportamentos humanos e morais que nos levam a situações de pecado, que ofendem gravemente a Deus, envergonham o nosso sacerdócio e fazem vítimas inocentes. Os abusos sexuais de menores, que devemos repudiar com toda a energia da nossa fé e da nossa ética, levam-nos a pedir a Deus que nos livre de tais pecados. Convertei-nos ao vosso amor e dai-nos verdadeiramente um coração puro, modesto e casto.
(…) À luz do Mistério Pascal sinto-me espiritualmente feliz, por ver os meus sacerdotes e diáconos e o Povo Santo de Deus, unido, em presbitério e em Igreja, “ao seu Bispo, como as cordas se unem à lira”. Na verdade, apesar de sermos todos diferentes, sentimo-nos todos unidos em comunhão sacramental, sinal de fraternidade e unidade no mesmo sacerdócio de Cristo, que faz de cada um nós um povo sacerdotal.
(…) Quando o padre é um homem de escuta e de oração, a sua vida deixa-se transformar pelo Senhor, a sua vida sacerdotal não é meramente burocrática e a sua relação quotidiana com o Senhor produz frutos. Num encontro com os párocos de Roma, o Papa Francisco lembrava: “não poderemos viver o ministério com alegria sem viver momentos de oração pessoal, cara a cara com o Senhor, falando, conversando com Ele” (15 de fevereiro de 2018).
(…) Quero convosco manifestar uma palavra de solidariedade para com o Arcebispo do Paris e o seu povo, para a Igreja da França que viu destruída parte da sua história de fé com o grave incêndio que destrui parte da Catedral de Notre-Dâme. Os mesmos sentimentos de dor e de prece nos unem às vítimas do grande acidente na Madeira, contemplando no mistério da Cruz e da morte a vida de Cristo e a sua entrega na Cruz.
(…) Este cenário reporta-nos para uma multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do nosso território e do mundo, são humilhados pela injustiça, por serem refugiados, emigrantes ou de outras culturas e raças; muitos são cristãos e sofrem perseguição.
Os flagelos que afetam a humanidade de hoje são um desafio constante à própria Igreja, marcada pela carência de vocações sacerdotais, pela baixa de natalidade, pela desertificação do interior, pela fuga dos jovens mais qualificados, pela falta de trabalho digno, pelo cansaço, diminuição e desencanto. Perante estas dificuldades, os sacerdotes enfrentam novas exigências pastorais, perante as quais, muitas vezes, se tornam impotentes e cansados para responder de modo evangélico.
(…) Servir a glória de Deus em tudo o que fazemos é o critério decisivo para o nosso agir, a síntese máxima do que significa viver a amizade com Jesus. Esta é a indicação que nos orienta quando não temos a certeza sobre o que fazer.
(…) “Tende o cuidado de fazer tudo com aquela concórdia que é do agrado de Deus, sob a presidência do Bispo, que representa o mesmo Deus, com os Presbíteros, que representam o colégio apostólico, e com os Diáconos, para mim caríssimos, aos quais foi confiado o serviço de Jesus Cristo.” (cf Epistola aos Magnésios, VI, I, S. João Paulo II na Carta aos Sacerdotes em Quinta Feira Santa de 1979). É este serviço livre, consciente e responsável, que nos leva a viver castos, pobres e obedientes a Cristo e àqueles que na Igreja o representam.
(…) O Papa Francisco, na Exortação apostólica sobre a santidade, Gaudete et exultate, aludiu aos sacerdotes apaixonados pela comunicação e anúncio do Evangelho, afirmando que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora” (Papa Francisco, gaudete et exultate, nº 138). Deixemo-nos, pois, transformar pelo Senhor Ressuscitado para sermos verdadeira luz para o nosso mundo.
(…) Em comunhão com o mandato do Senhor, que nos manda amar-nos uns aos outros, convosco, caros sacerdotes, queridos irmãos e irmãs na fé, dou graças a Deus pelo dom e ministério do nosso sacerdócio; convosco e com todas as famílias da nossa diocese, rezo a fim de que jamais faltem na Igreja os sacerdotes santos que Ela precisa.
Confio estes bons propósitos, votos e orações a Maria Santíssima, Mãe de Cristo, sumo e eterno Sacerdote, a mulher luminosa, a Mãe dos sacerdotes, Aquela que nos acompanha sempre. São José, o homem justo e silencioso, São Teotónio, o pastor insigne, e o exemplo da missionária do povo, Beata Rita Amada de Jesus, apostola da “Família, da Eucaristia e do Rosário”, intercedam junto da Trindade Santíssima para que Deus conceda a todos nós, a todos os batizados, às famílias, às crianças e aos jovens, assim como a todas as pessoas de boa vontade e que vivem na nossa Diocese, a sua Santíssima bênção!
2. Missa Vespertina da Ceia do Senhor:
(…) “Precisam-se Lavadores de pés”. O Senhor Jesus, antes de celebrar a ceia com os apóstolos, lavou-lhes os pés. Tema atualíssimo e bem enquadrado na Liturgia de Quinta Feira Santa. Lavar os pés significa amar sempre como Jesus nos amou e servir sempre os irmãos à maneira de Jesus, especialmente os pobres e os doentes. Só depois deste gesto de amor e serviço Jesus se sentou à mesa, para tomar a refeição.
(…) Jesus Instituiu o Sacramento da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial no contexto da ceia pascal, para nos ensinar que a vida é uma entrega, um serviço, um dom no qual Ele se fez alimento para saciar a nossa fome. Ele é o verdadeiro “Pão Vivo” que desceu do Céu para a vida do mundo.
(…) Nesta celebração Vespertina da Eucaristia, fazemos memória solene da última Ceia do Senhor Jesus Cristo com os seus Apóstolos. Sentado à mesa, Ele celebrou a Páscoa com os seus discípulos e reuniu-os no Cenáculo para lhes oferecer a sua própria vida em comunhão e em alimento.
(…) Aqui está a essência do Mistério Pascal: a Eucaristia que é o Corpo de Cristo entregue, é também o sacrifício de Cristo na Cruz, para que, através da Sua morte e Ressurreição, nos tornemos verdadeiramente os seus discípulos missionários, os “amigos prediletos de Jesus”, que com o coração cheio de beleza e gratidão, repetem hoje os gestos de Jesus em cada Eucaristia: “Fazei isto em Memória de Mim.”
Como sabemos, a Igreja ensina que: “a Eucaristia faz a Igreja” e “a Igreja faz a Eucaristia”. Que maravilha espiritual e eclesial: todos os batizados formamos o Corpo de Cristo; alimentados pela Eucaristia e pela Palavra, vivemos a missão de fazer da nossa vida uma Eucaristia contínua.
(…) Tudo nos é dado por Jesus na Eucaristia, tudo lhe pertence e tudo lhe oferecemos de novo. A Eucaristia deve alimentar as vinte e quatro horas do nosso dia. Tudo se torna Eucaristia quando vivemos com Jesus e para Jesus.
(…) Sinto uma particular alegria em celebrar convosco, como vosso Bispo e Pastor, esta Ceia que o Senhor preparou para nós. Desejo subir à sala de cima, ao Cenáculo convosco para celebrar o Mandamento Novo do Amor. Imitando o gesto de Jesus, também eu quero tirar as vestes em sinal de despojamento, de disponibilidade, de serviço, e, colocando a toalha à cintura, ajoelhar-me diante dos meus irmãos para lhes lavar os pés e beijá-los com o ósculo da paz. (…) É isto que eu quero também hoje fazer, lavando os pés aos nossos irmãos aqui presentes, representando: as famílias, os jovens, os pobres e os membros dos movimentos apostólicos.
(…) À luz do Mistério Pascal, sinto-me espiritualmente feliz por ver os sacerdotes, os diáconos, os seminaristas e o povo santo de Deus, unidos a celebrar a Eucaristia na Igreja Mãe da Diocese, em comunhão com o seu Bispo.
(…) A Eucaristia é o maior dom do coração de Cristo, por isso devemos estar atentos à sua presença no meio de nós. Só a oração e o estudo da Palavra de Deus, como fizeram os místicos, os santos, a Beata Alexandrina de Balasar, que souberam fazer da sua vida uma verdadeira comunhão em proximidade e intimidade com Jesus Eucaristia, nos podem ensinar o valor desta relação com Cristo. Em Jesus Eucaristia encontraram o Médico Divino a quem ofereceram a sua vida para a Igreja ter cada vez mais os sacerdotes que precisa, segundo o Coração de Cristo.
(…) A vocação sacerdotal requer, por parte daquele que é chamado, um compromisso quotidiano de gratidão a Cristo e à Igreja, Esposa fiel e obediente, que, como Mãe, nos estimula a viver na graça de Deus e a percorrer verdadeiros caminhos de santidade. Este é o campo fecundo de uma pastoral vocacional que é preciso ter a coragem de propor e incentivar.
(…) Os Padres são precisos na Igreja, porque sem o seu ministério não temos quem nos celebre a Eucaristia. Faz-nos bem refletir sobre a tríplice função da missão de Cristo como: Profeta, Sacerdote e Rei, para darmos testemunho ao mundo do Sacerdócio de Cristo, que através do Sacramento da Ordem imprimiu em cada um de nós o “caráter sacramental” que faz de nós sacerdotes servidores de Cristo, o Bom Pastor, enviados a trabalhar para a sua vinha. Cristo Senhor, sem renunciar a nada, vai ao encontro de todos, às periferias existenciais, abraçando as dificuldades e os sacrifícios das pessoas e anunciando-lhes a “Alegria do Evangelho.”
(…) Confio esta prece a Maria Santíssima, Mãe de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, a mulher Eucarística. Que ela cuide de todos os seus filhos sacerdotes, os faça cada vez mais fiéis e santos no exercício do Seu ministério. Que Jesus Eucaristia conceda a todos os sacerdotes, seminaristas, famílias, crianças e jovens o dom de se deixarem seduzir por Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento do altar.
(…)
G.I.