Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

A FESTA DA DEDICAÇÃO DA CATEDRAL

1. Celebramos, Senhor, a glória do vosso nome, ao recordar o dia da consagração e dedicação solene desta Igreja, esposa do Senhor, mãe e mestra dos cristãos, “a morada de Deus entre os homens” (Sl 83 (84), chamada “casa de oração para todos os povos” (Is 56,7).

Foi a glória do Senhor que encheu este templo, a morada de Deus, o lugar onde o “Filho do homem” tem o seu trono e aqui habitará para sempre (cf. Ez 43,7).

Nós somos o novo povo de Israel, o “edifício de Deus” (1Cor 3,9), a sua morada por excelência, porque “o templo de Deus é santo e nós somos esse templo” (cf. 1 Cor 3,17).

Como batizados desta diocese, fazemos hoje a nossa peregrinação interior a este lugar sagrado. Sentimo-nos aqui queridos e amados por Deus, que diz a cada um de nós: desce depressa, que eu quero ficar hoje em tua casa. Também nós, à semelhança de Zaqueu, queremos ver Jesus e ouvir a sua palavra: “desce depressa, que hoje eu quero morar em tua casa” (cf. Lc 19,1-10). Estas palavras dirigidas a Zaqueu são também para a Igreja e para o mundo, nestes tempos difíceis e cheios de complexidade provocada pela pandemia.

Continuamos a respeitar o distanciamento social, a usar a máscara, a fazer a desinfeção das mãos e a utilizar outros meios que sejam necessários para levar a bom termo o projeto de voltarmos com a vida a uma nova normalidade.

Diante de uma vida sufocada pelo medo e tocada pela incerteza de um mundo desconhecido, onde o horizonte do amanhã se mostra cheio de incertezas na realização de situações concretas, como Zaqueu queremos procurar o Senhor e deixar que Ele se torne a nossa própria casa.

Caríssimos padres, diáconos, consagrados e leigos, como povo de Deus não podemos deixar de caminhar para a casa do Senhor e contemplar as águas do templo que “corriam do lado direito”, sinal da abundância da graça e da bênção (cf. Ez 47,1-2.8-9,12), pois, como cantávamos, “os braços dum rio alegram a cidade de Deus, a mais santa das moradas do altíssimo”. A Igreja chama o povo de Deus a beber da água viva que jorra debaixo do altar no interior do templo do Senhor.

Não podemos apagar do nosso coração o desejo de sermos um povo reunido em nome do Senhor, na casa do nosso Deus, lugar do encontro, de celebração, da festa, da comunhão e da oração. Somos um povo peregrino, presente numa Igreja portadora desta espiritualidade de comunhão, que assenta em Cristo, pedra angular, porque “vós sois edifício de Deus” (1 Cor 3,9), gerador de um verdadeiro compromisso apostólico.

2. A Eclesiologia do Vaticano II chama à Igreja povo de Deus a viver a fé e a caminho como peregrino para a Jerusalém Celeste; povo convocado a ser Igreja, Corpo de Cristo, presente e visível no mundo. Um povo chamado pelo Senhor a ser pedra viva, assente em “Cristo pedra angular, escolhida e preciosa”, “porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo” (cf. 1 Cor 3, 17).

Uma Igreja chamada a escutar também a Palavra de Deus, a viver e a celebrar a Eucaristia, a administrar os Sacramentos, a celebrar os sinais da fé e da salvação, numa espiritualidade de comunhão, de solidariedade e de partilha efetiva com os mais pobres.

A Igreja é chamada a estar viva no meio do mundo e a levedar a massa que é a comunidade dos fiéis batizados. O seu compromisso em dizer não a uma sociedade descartável, de violência, de abandono dos mais frágeis, dos doentes; a recusar uma sociedade promotora de morte, que põe em causa a falta de respeito pela pessoa humana e pela sua dignidade, exposta hoje a tantas vulnerabilidades e atrocidades nos palcos mais diversos do mundo e da Igreja.

A maternidade da Igreja continua a gerar novos filhos no meio de dores e angústias, no meio de perseguições, de destruição, de cenários de guerra e de morte, onde tantas vítimas morrem inocentes porque acreditam e seguem Jesus Cristo, amam a Igreja, ajudam os pobres, os deslocados e os refugiados.

As notícias que nos chegam através dos meios de comunicação social, da “Ajuda à Igreja que Sofre”, do Vaticano, de informações da Cáritas Internacional ou de Agências de Informação e Comunicação, fazem-nos receber a cada momento pedidos de ajuda e auxílio. Este clamor do povo chega do norte de Moçambique, da Nigéria, da Síria, do centro da África, de países da América Latina, da Ásia e de tantos outros lugares, que se tornaram campos de pobreza, de refugiados e até da própria morte.

A Igreja continua, como mãe, a gerar novos filhos no meio de dores e de angústias, pois muitos deles continuam a morrer como mártires, dando  testemunho da sua própria fé. Temos que ser uma Igreja cada vez mais voltada para os pobres e à procura dos pobres, com a missão de anunciar e promover o respeito pelos direitos da pessoa humana e pela sua dignidade, tornando presente no mundo o mandamento novo do amor, o anúncio das bem-aventuranças e a prática das obras de misericórdia.

3. Somos uma Igreja que quer ser “Casa Comum” para todos, lugar de comunhão, através de gestos simples e concretos, como nos pede o Papa Francisco; Igreja chamada a ser construtora de um mundo melhor, a cuidar da natureza, a contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna, onde todos tenham o direito a receber o que precisam, mesmo que seja uma vacina que é um bem necessário e indispensável para combater a pandemia do Covid-19 e que deve destinar-se a todos; não pode ser um privilégio apenas de alguns.

A voz profética da Igreja em cumprir as orientações sanitárias e a adaptar a sua missão de ensinar, santificar e servir em contextos diferentes, mas relevantes para a vida das pessoas, torna-se uma Igreja em saída e no acolhimento a todos.

Uma característica importante da presença do Reino de Deus e da sua implantação no mundo é a autenticidade de vida, como convite constante à mudança e renovação interior: “O Reino de Deus está próximo, convertei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1), proposta do Papa Francisco no conteúdo da “Evangelium Gaudium”.

Ainda estamos longe de concretizar uma pastoral de conversão e renovada, direcionada às periferias que tenham como protagonistas os agentes de pastoral quer sejam os próprios pastores, os consagrados e os leigos.

Convido a Igreja Diocesana a descobrir uma forma de partilhar com as suas instituições, procurando dar para os pobres do nosso tempo como fez São Teotónio no início da nacionalidade ao ajudar nesta própria Igreja aquelas pessoas que todos os dias acolhia e lhe batiam à porta a pedir esmola.

É preciso trabalhar esta dimensão da comunhão e da partilha, não podemos cair no risco do desanimo, diante de um percurso que nos desafia a uma conversão permanente com critérios que devem ser comuns para todos. Devemos insistir em “caminhar juntos” e com alegria caminhamos para a casa do Senhor, pois todos estamos “no mesmo barco”.

4. A minha Casa é um lugar de oração, diz o Senhor. Uma das coisas que aprendemos a valorizar em tempo de pandemia e confinamento social foi o valor da oração individual e em família. Agora é preciso recriar o gosto de voltarmos às nossas assembleias semanais e dominicais e não termos medo de comunitariamente celebrar a fé.

Ao celebrarmos hoje a dedicação da nossa Catedral ao Senhor, reunidos à volta do altar, oferecemos-lhe este sacrifício de louvor, de ação de graças, tomando consciência de que somos todos chamados pelo Senhor ao  seu santuário, onde Ele nos quer reunir e envolver na santidade que adorna o seu templo, como fez com Zaqueu.

“Cristo nossa esperança está vivo e é a mais formosa juventude deste mundo. Tudo aquilo que Ele toca torna-se jovem, faz-se de novo, enche-se de vida (…). Ele vive e quer-te vivo!” (CV 1). Ele está em ti, Ele está contigo, Ele está connosco, Ele nunca se vai embora; por mais que tu te afastes, lá está o Ressuscitado, chamando-te e esperando-te para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, pelos rancores, pelos medos, pelas dúvidas, pelos fracassos, Ele estará presente para te devolver a força e a esperança” (CV 2). Deus nunca abandona o seu povo e é sempre fiel à sua aliança. Ele tem um carinho especial e preferencial pelos pobres, doentes, infetados, marginalizados. A sua atenção é permanente pelos excluídos e os últimos da sociedade.

5. O templo de Deus é Santo e vós sois esse templo. A casa construída para o Senhor e que lhe foi dedicada festivamente é o sinal da nova morada de Deus entre os homens, a Jerusalém celeste, símbolo da verdadeira Igreja de Cristo em plenitude, representada no templo de pedras que é esta vetusta e rica Catedral de Viseu. Ela representa a verdadeira Igreja sem rugas e sem mancha, que todos os batizados esperamos ser; a Igreja viva presente na Diocese onde todos os batizados temos um lugar próprio e um desafio permanente a um compromisso de fidelidade.

Queremos ser uma Igreja empenhada na evangelização, no testemunho da fé, na esperança nas famílias, no acompanhamento dos jovens, na promoção de novas vocações e na constante renovação de um plano pastoral que dê esperança às pessoas.

Uma Igreja em jubileu sacerdotal, em comunhão com todos os sacerdotes que hoje celebram o aniversário da sua ordenação sacerdotal, ou natalício, uma Igreja que faz memória agradecida e sufrágio pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor D. Ilídio Pinto Leandro, lembrando o dia da sua Ordenação Episcopal nesta Catedral e o início do seu ministério como Bispo desta Diocese. Recordamos também os bispos, sacerdotes e diáconos, vivos e defuntos. Rezamos pelos sacerdotes, diáconos, consagrados e todo o povo de Deus em construção, todos os que estamos a sair dos escombros desta pandemia, que nos obrigou a ser uma Igreja familiar confinada na “Igreja Doméstica”.

Ainda hoje sentimos pouca expressão comunitária na celebração da fé. Somos uma Igreja com pouca capacidade solidária, com falta de agentes e de meios, onde os pobres continuam a ser mais pobres; Igreja sem meios suficientes para socorrer os necessitados, os indigentes, os deslocados e até os próprios doentes. Rezemos por eles a Deus pedindo que lhes conceda o dom da saúde e da salvação.

A casa construída com a Palavra de Deus une a fé e a oração no cimento espiritual que dá estrutura e suporte à Igreja assente no testemunho dos apóstolos, dos evangelistas, dos mártires, da comunidade primitiva e no contínuo testemunho de vida dos cristãos.

A Igreja que atravessou séculos com a fragilidade e a grandeza do seu povo – o pecado e a santidade – é chamada à comunhão com Deus pelo Batismo, para celebrar o banquete Eucarístico na festa do aniversário da Dedicação desta Casa do Senhor, Igreja Mãe da Diocese de Viseu.

Que Igreja somos? Que Igreja queremos e devemos ser? Que Igreja nos pede Jesus que sejamos? Uma Igreja em saída de uma situação de isolamento e individualismo para uma Igreja de comunhão, de conversão, de partilha e de solidariedade. Um exemplo concreto para lutar contra a indiferença vem-nos de Lampedusa, depois da uma visita de poucas horas realizada pelo Papa Francisco àquela ilha italiana.

Que Santa Maria do Altar Mor cuide desta Igreja diocesana; São Teotónio a estimule na prática da caridade e a Beata Rita Amada de Jesus a inflame do fulgor missionário. Ámen!

Dedicação da Catedral de Viseu, 23 de julho de 202

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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