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Homilia na Missa Vespertina da Ceia do Senhor

 

 

Foi com este cântico que iniciamos a nossa celebração Eucarística e com ele queremos dar glória a Deus ao iniciar a celebração Vespertina da Ceia do Senhor, o Tríduo Pascal. Ao Senhor queremos dar glória e louvor, aprender como Ele no amor, no serviço, no cuidado e no exemplo, tudo fazermos para que a Igreja a quem foi confiada a missão de celebrar a Eucaristia através do ministério ordenado dos sacerdotes, a torne o centro, o cume e a meta da nossa vida espiritual.

Esta liturgia de Quinta Feira Santa, nesta celebração Vespertina da Ceia do Senhor, coloca diante de nós alguns desafios. O primeiro pode ser uma pergunta. Estamos nós a cuidar bem da Eucaristia? Estamos nós a celebrar e a viver bem a Eucaristia?

Quem celebra e vive bem a Eucaristia, quem comunga o Corpo do Senhor, quem bebe do Seu Cálice é lhe dada a vida nova, que devemos levar ao mundo como testemunho.

“O nosso Salvador institui na última Ceia, na noite em que foi entre, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício  da cruz, confiando à Igreja, sus esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura” (SC 47).

Ao ouvirmos na narração do livro do Êxodo, que relata a celebração da primeira Páscoa, como memorial dessa Páscoa, que o povo judeu celebrava e celebra, para lembrar esse grande acontecimento, que foi a sua libertação e saída da terra do Egipto. “Data memorável para ser celebrada de “geração em geração, como uma instituição perpetua” (Ex 12,14).

São Paulo, na segunda leitura aos Coríntios, ele próprio dá testemunho daquilo que era celebrar e viver a Eucaristia nas primeiras comunidades cristãs. O Evangelho fala-nos de Jesus, reunido com os seus discípulos à volta da mesa, para celebrar a refeição do amor e da graça, a Eucaristia.

É nesse lugar do Cenáculo, que Ele nos ensina que o amor é a razão primeira e última de todos os planos. É aí que Ele nos surpreende com o seu espírito de serviço, amando e servindo, cuidando e servindo, rezando e entregando-se, para que o mandamento novo do amor, seja também o nosso mandamento.

Com a celebração desta Eucaristia Vespertina da Ceia do Senhor, iniciamos o Tríduo Pascal, tempo cheio de densidade e profundidade que nos insere no mistério da vida e da morte de Jesus Cristo, para a esperança produza os frutos novos da sua Ressurreição. Por isso tempo Pascal deve ser para os cristãos um tempo forte de escuta da Palavra de Deus, um tempo de oração em que procuramos em intimidade com o Mestre, aprender aquilo que nos manda: amar e servir e também dar o exemplo.

Mas também é uma hora de gratidão, por isso, Jesus agradece ao Pai toda a missão que lhe foi confiou e nesta Ceia bendita, Ele transmite este mandato aos seus Apóstolos. Daí brota a ação de graças, para fazer a comunhão com o próprio Cristo, quer na mesa da Palavra, quer na mesa da Eucaristia.

Celebrar a Eucaristia é em cada dia, em cada domingo uma festa, mas de modo particular hoje, em que fazemos memória e atualizamos as palavras e os gestos de Jesus.  São Paulo dá-nos o seu próprio testemunho sobre o valor e o significado da Eucaristia e os frutos que ela deve produzir.

Assim viviam os primeiros cristãos reunidos à volta da Eucaristia e tinham um só coração e uma só alma.

São Paulo, na carta aos Coríntios, afirma: “Eu recebi do Senhor, o que também vos transmiti: O Senhor Jesus na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim”. Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova Aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim” (1Cor 11,23-26).

É isto, que nós estamos a fazer: memória, gratidão e presença das palavras de Jesus. Pela ação do Espírito Santo o pão e o vinho trazidos ao altar, converter-se-ão nesse sinal, que foi a multiplicação dos pães e dos peixes. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, é isto que se realiza no Sacramento do amor, do serviço e da comunhão, por isso a Eucaristia é vida nova. Cristo está vivo na Eucaristia, mas a Eucaristia é também memória agradecida, porque o Senhor Jesus no memorial da última Ceia, na sua Paixão, Morte e Ressurreição, quis ficar connosco, para no Santíssimo Sacramento do altar ser comungado, reparado e adorado.

A Eucaristia é sempre uma meta, um bem a atingir, o cume da vida espiritual da Igreja. Quando nós soubermos saborear bem a Eucaristia, saberemos também oferecer-nos a nós mesmos como o verdadeiro Corpo do Senhor, que ao mundo de hoje é oferecido também como alimento de vida.

Ao fazer a recordação deste texto, lembro  um Retiro para sacerdotes em 1992, na cidade de Monterrey, no México, orientado pelo padre franciscano Raniero Cantalamessa, pregador espiritual da Casa Pontifícia, que ao fazer uma conferência sobre a Eucaristia, pegou nas palavras que ouvimos de Paulo aos Coríntios e dizia: “Quando um bispo, ou um sacerdote pega no pão e no cálice com o vinho, o oferece e diz  as palavras de Jesus: ‘Isto é o meu Corpo; isto é o meu Sangue’, se ele próprio não sentir isso, ele mesmo não está a saber viver e a celebrar a Eucaristia.

Quanto me marcaram estas palavras que continuam a ecoar na minha vida em cada dia. Irmãos e irmãs nós somos o pão e o vinho trazidos ao altar, para que se transformem para todos nós no Corpo e Sangue do Senhor.

Haverá maior milagre do que este de viver e celebrar a Eucaristia?

Por isso no longo do caminho que estamos a percorrer, se nós quisermos saborear o Pão dos Anjos, que é o próprio Jesus, que há de saciar a nossa fome porque nós não queremos morrer de fome, porque Ele se fez o Pão que nos alimenta até à Vida Eterna.  Jesus Cristo, o enviado do Pai ao mundo, para fazer a sua vontade, encarnou no seio de Maria e tornou-se nosso Alimento, oferecendo-se na Eucaristia, como o Pão vivo descido do Céu. Caríssimos irmãos lembremos as palavras dos primeiros cristãos quando no meio de dificuldades e perseguições diziam: não podemos viver sem o domingo, não podemos viver sem celebrar a Eucaristia. Nós sabemos quanto isto nos tem custado, de modo particular durante este tempo de pandemia e de confinamento. Por isso, Jesus reuniu-se com os discípulos para celebrar a Páscoa, para fazer memória, mas é durante esta Ceia que Ele revela uma nova Ceia Pascal, e faz a entrega do seu Corpo e do seu Sangue para que muitos tenham a vida.

Esta é a memória, é o sacrifício vivo e Santo que celebramos no Sacramento do altar. Todo o povo santo dos batizados deve tomar consciência clara de que a celebração da Eucaristia em cada dia e em cada domingo, atualiza sempre a Páscoa do Senhor, na esperança da vida futura. Por isso, o Tríduo Pascal ajuda-nos a fazer esse caminho, que é também recordação, porque nós precisamos de sair da escravidão, do erro, do mal e do pecado, para sermos a geração santa e escolhida, que há de fazer memória perene desta instituição.

O mandamento novo do amor é assim para nós um desafio, que devemos viver na alegria e na paz. Este ano, nesta celebração por causa da pandemia e do confinamento, não temos o momento de lava-pés, mas isto não nos impede de servirmos sempre mais e melhor os nossos irmãos.

Como Jesus fez, colocou uma toalha à cintura, pegou numa bacia com água, ajoelhou-se e lavou os pés aos seus discípulos; é este o serviço cristão de caridade, de entrega aos irmãos particularmente uma atenção permanente para com os pobres, os doentes, os indefesos, os mais frágeis e vulneráveis, que todos devemos ajudar mais. “Vós deveis lavar os pés uns aos outros, para que assim como Eu fiz, vós façais também “(Jo 13,15).

Também hoje, o Senhor senta-se ao nosso lado e nos convida a todos a participar neste mistério de amor e de comunhão, a permanecer com Ele, a aprender com Ele, não só para amar os doentes e os pobres, mas toda a humanidade.

A fazer da Santíssima Eucaristia esta experiência de vida que nos leva em “tudo amar e a servir Jesus”, quero dizer: Ó Jesus, eu vos louvo e vos amo no Santíssimo Sacramento. Como o Beato Carlo Acutis saibamos descobrir ao longo da nossa vida que a “Eucaristia é a auto estrada que nos conduz ao Céu”.

Ó Jesus, ao iniciarmos o Tríduo Pascal, ao celebrarmos a Eucaristia da Ceia do Senhor, que Tu viveste e na qual Te entregaste, faz com que o nosso exemplo, o nosso serviço, a nossa caridade e o nosso testemunho, façam da nossa vida sempre uma Eucaristia, para ensinarmos os outros a viver e a caminhar sempre para a Eucaristia. Ámen!

 

Sé de Viseu, 1 de abril de 2021

† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
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