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Homilia na Sexta-feira da Paixão do Senhor

 

Contemplemos Jesus que deu a vida para nos salvar e morreu na cruz.

Caríssimos irmãos e irmãs, vós mais pequeninos e pequeninas, caros jovens. As palavras são insuficientes para agradecer tanto amor, tanta generosidade.

“Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu próprio Filho, para que todo o que n’Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). O relato da Paixão do Evangelista São João, nesta Sexta-Feira Santa, diz-nos tudo o que precisamos de saber. Foi um processo longo e difícil, mas Jesus veio para dar a vida e nos salvar.

Cristo foi obediente ao Pai até à morte e morte na Cruz, e por isso Deus o exaltou na árvore da vida, que é a Cruz, para nós podermos ter vida. Feliz lenho que suportou o Autor do mundo; Ele agora é nosso.

Só o amor de Jesus, como ouvíamos no relato da Paixão – este amor que é o amor do Pai, insondável e gratuito, por cada um de nós – podia levar o Servo Sofredor, de que falava Isaías na primeira leitura (cf. Is 52,13 e 53,1-12), a tão grandes gestos.

Por isso, lembrando a Carta aos Hebreus, nesta hora de morte, de dor, de silêncio e de gratidão, repetimos: “Vamos, portanto, cheios de confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos um auxílio oportuno” (Hebr 4,16).

Jesus morreu para nos dar o exemplo. Nós também temos de aprender a morrer para o pecado, para tudo aquilo que é negação do amor; a morrer para nós próprios e a olhar cada vez mais pelos outros.

A Igreja convida-nos nesta Sexta-Feira Santa a rezar diante da Paixão de Jesus pelos injustiçados e condenados inocentes no nosso mundo. E são muitos aqueles que nos nossos dias e em tantas partes do mundo são condenados inocentemente por amor à verdade e à justiça.

Por isso, olhando Jesus o Crucificado, guardemos no coração as suas palavras de amor e de entrega:

“Quando eu for elevado da terra, disse Jesus, quero atrair todos a mim”. E hoje, irmãos e irmãs, somos estes que Ele quer atrair para a sua vida, guardar no seu coração e alimentar com o pão da Eucaristia.

Por isso dizia também o texto da narração da Paixão: “Hão de olhar para Aquele que foi trespassado”. Obrigado, Senhor! Obrigado, Jesus! Pelas tuas Santas Chagas nós fomos curados. Não tiveste receio de ser rejeitado e condenado, de ser o grão de trigo que tem de morrer para dar muito fruto.

Este dia e nesta tarde convido-vos a olhar para o nosso mundo envolvido em sofrimento por causa desta pandemia e por tantas situações de injustiça, de falta de trabalho ou de doença, que nos levam a olhar uns para os outros, sempre com o olhar de Jesus, repetindo aquelas suas palavras: “Pobres sempre os tereis convosco, mas a mim nem sempre me tereis”.

Convido-vos a olhar à vossa volta e a não deixardes que a ninguém falte o pão de cada dia. Contemplando Cristo morto na Cruz, devemos aprender o caminho verdadeiro da solidariedade e da proximidade.

Esta é, na verdade, a hora de Jesus, a hora da entrega ao Pai na morte de Cruz. Ele dá a vida para nos alcançar o perdão e a misericórdia. É também a hora da Divina Misericórdia.

A narração da Paixão do Senhor mostra-nos o exemplo e o testemunho do Justo, o Servo Sofredor de Isaías, onde nós também encontramos um lugar para cada um de nós e para todos aqueles que na nossa sociedade são rejeitados, marginalizados ou ignorados. Por isso conforta-nos a oração de Jesus na Cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mc 15,34). Muitas vezes rezamos a Deus este salmo a pedir o dom da confiança. Diz o evangelista que “Jesus soltando um grande brado, expirou” (Mc 15,37).

Meus irmãos e irmãs, aprendamos a dizer sempre: Nós vos adoramos e bendizemos, ó Jesus, que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

Neste contexto gostaria de lembrar as sete palavras de Jesus na Cruz:

 

  1. “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23,34)

O perdão é sempre um dom de Deus. Deus perdoa sempre, ama o pecador e rejeita o seu pecado.

Por isso, a misericórdia de Deus é infinitamente maior do que qualquer pecado. “Sede misericordiosos, como o Pai é misericordioso”. Perdoai aos vossos inimigos.

 

  1. “Hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lc 23,43)

Se o bom ladrão ouviu estas palavras, sentiu gozo e alegria interior. Oxalá, que na hora derradeira da nossa agonia tenhamos alguém que, junto de nós, reze por nós e nos conforte, para podermos, na fé que professamos, sentir no coração a certeza destas palavras: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Não quero neste momento deixar de lembrar todos os irmãos e irmãs que ao longo deste ano, em Portugal e em todo o mundo, morreram vítimas de Covid-19 ou de outras doenças e que não puderam ter junto de si quem os acolhesse, lhes falasse de Jesus, ou até a própria família.

 

  1. “Mulher, eis o teu filho! Filho, eis a tua Mãe!” (Jo 19, 26-27)

Na verdade, Maria sente, desde a infância de Jesus, que uma dor há de trespassar o seu coração, a sua alma, e não é só uma dor física ou moral. O Evangelho fala de uma espada que trespassará a sua alma. A dor que Maria sente é a ingratidão daqueles que não acolheram a Palavra do seu Filho. No calvário, no silêncio e na dor, Maria continua a repetir como fez em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2,5). Em Maria encontremos a Mãe que precisamos de ter, e em João imitemos o discípulo que queremos ser.

 

  1. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mc 15, 34)

Ao olharmos para o nosso mundo, sentimos que muita gente experimenta em cada dia o abandono e a solidão, muitas vezes da família e dos amigos. É nestes momentos que devemos ter a coragem de ir ao encontro dos outros, ser como o bom samaritano. Ir ao encontro daquele que precisa que as suas feridas sejam curadas.

 

  1. “Tenho sede!” (Jo 19,29)

Sim, Jesus, tenho sede.

Já o salmista recorda e lembra: “Senhor, sois o meu Deus, desde a aurora vos procuro, a minha alma tem sede de vós” (Sl 62).

Sim, hoje Jesus tem sede de nós. De ti e de mim. Tem sede das nossas almas, para que elas nunca se afastem do caminho da virtude e do bem, da estrada da santidade.

 

  1. “Tudo está consumado.” (Jo 19,30)

O Evangelho da Paixão diz-nos que Jesus tudo cumpriu para fazer a vontade do Pai. É aquilo que nós devemos aprender a fazer, para, na obediência da fé, consumarmos a nossa vontade com a vontade de Deus. Este é o grande desafio da vida cristã.

 

  1. “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46)

O Senhor não se entregou nas mãos do Pai sozinho. Entregou aquilo que era seu. E entregou-o com Maria e o discípulo amado, para que sejamos todos em Igreja corresponsáveis diante do Pai.

Somos chamados a levar Cristo aos irmãos para que o descubram e vivam particularmente na Eucaristia, no Sacramento da Reconciliação e nos demais Sacramentos onde Ele nos dá o Espírito que dá a vida.

Por isso, gostaria de terminar dizendo como o centurião: ”Na verdade, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39).

Diante de Jesus, todos nos ajoelhemos e adoremo-Lo na Cruz. Ele é na verdade o nosso Salvador e Redentor.

Morreu para dar a vida, para resgatar do pecado e para nos salvar. Todos somos culpados da morte de Jesus Cristo. Por isso somos convidados a dizer não a uma cultura de morte e a sermos todos construtores de uma cultura de vida, que cuida no sofrimento, acompanha com cuidados médicos e de saúde, não abandona ninguém, e que na hora da morte oferece a todos os que sofrem o alívio na dor. Peçamos que sejam possíveis, a todos os que sofrem em estado terminal da sua existência, verdadeiros cuidados paliativos que aliviem as dores e cuidem deles com dignidade. Digamos ‘sim’ à vida e ‘não’ a tudo o que destrói a morte.

O sofrimento, as dores e a morte não são indiferentes à pessoa de Jesus Cristo, nem o podem ser à vida da Igreja, nem dos cristãos. Convido-vos neste momento a levar o nosso pensamento à Terra Santa, a esse lugar sagrado onde Jesus realizou por nós aquilo que estamos a celebrar com Ele e por Ele. Rezemos por todos aqueles que nos diversos lugares do mundo sofrem o ódio, a violência, a revolta, a perseguição e morte.

Junto da Cruz, com Maria e com João, na compaixão e na ternura, junto dos que sofrem, sejamos a mãe, que precisamos que nos acompanhe sempre, e o discípulo, que em nós quer dar sempre o seu testemunho. Ámen!

Sé de Viseu, 2 de abril de 2021

† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
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